País se ilude com Pan antes da realidade olímpica
A pátria de chuteiras se transforma em época de Jogos Pan-Americanos na nação da ginástica rítmica, do handebol, do judô, do tênis de mesa, do vôlei de praia e de mais duas dezenas de modalidades. O sucesso continental, porém, quase sempre se transforma em decepção olímpica no ano seguinte.
Um dos poucos esportes que fogem à regra é a vela. A disputa elitista das quilhas e mastros é a segunda no ranking de medalhas de ouro (24) para o Brasil na competição continental, só atrás do atletismo (37). Nos Jogos Olímpicos também não desaponta: é a modalidade que mais medalhas trouxe para o país até hoje.
A situação do "país do futebol" ser também o "país da vela" é também reflexo da realidade social do país, o pior das Américas no item distribuição da renda (o 1% da população detém 50% do dinheiro nacional, segundo levantamento da Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O Pan de Santo Domingo, em 2003, foi emblemático. O Brasil conquistou pódios em 30 das 37 modalidades, somando 123 medalhas. Foi um crescimento de mais de 20% em relação ao Pan de Winnipeg, em 1999, quando o país bateu a marca centenária de prêmios (um total de 101).
Agora como sede do Pan-Americano de 2007, o país quer ultrapassar o Canadá e se firmar como terceira força das Américas, só atrás dos EUA e Cuba. O Brasil não termina nesta posição desde 1967, ou seja, há 40 anos. Já na última edição, os brasileiros empataram em ouro com os canadenses (ambos com 29), que levaram muita vantagem nas pratas. Resultado: o Brasil ficou em quarto, como em Winnipeg-1999. A projeção do COB para 2007 é ultrapassar a marca de 150 medalhas no Pan caseiro.
Grande parte desse incremento de medalhas vem da injeção de verba no esporte nacional. Começou com o dinheiro vindo dos bingos, depois dos patrocínios estatais e se completou com a destinação de 2% do arrecadado com as loterias.
O Brasil se mostrou também megalomaníaco no estrutura de seu segundo Pan –o primeiro foi São Paulo-1963. O custo do Rio-2007 já cresceu mais de 300% desde 2002, quando o Rio foi escolhido para organizar os Jogos. Em números oficiais, o orçamento é de R$ 3 bilhões, mas, dependendo do critério usado nos cálculos, a soma pode chegar a até R$ 4 bilhões.
Terceiro maior país em área (atrás do Canadá e dos EUA) e o segundo mais populoso das Américas (atrás dos EUA), o Brasil está em posição mais modesta no ranking do Pan: é o quinto no número de medalhas continentais.