UOL Pan 2011 Jadel se aproxima do Islã e quer reverter fracassos olímpicos após cirurgia grave - 03/10/2011 - UOL Pan 2011
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03/10/2011 - 07h00

Jadel se aproxima do Islã e quer reverter fracassos olímpicos após cirurgia grave

Gustavo Franceschini
Em São Paulo

Jadel Gregório era uma das principais apostas do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e em 2008, em Pequim. Foi às duas finais, mas não conseguiu a esperada medalha. Após os tropeços olímpicos, o maior saltador da história recente do Brasil se aproximou do islamismo, sua religião desde 2005, e quer atingir seu maior objetivo após duas cirurgias graves nos joelhos. 

O problema físico é recente. Desde 2008, o atleta não consegue manter o mesmo nível de resultados pelas seguidas dores. Aconselhado por Moises Cohen, médico que tratou o joelho de Maurren Maggi, ele operou os dois joelhos há menos de um mês e ainda está em fase de recuperação. Mesmo assim, promete presença e um resultado melhor em Londres, em 2012. 

JADEL EM DOIS MOMENTOS DISTINTOS

  • Gustavo Franceschini/UOL

    Hoje, recém-operado e fora do Pan, o saltador se recupera para buscar a sonhada medalha em 2012

  • AP Photo/Thomas Kienzle

    Em 2008, ele chegou a Pequim com a 5ª melhor marca, mas não foi bem e terminou na 6ª posição

"[A dor] que chegou ao ponto em que ou eu faço [a cirurgia] e volto a brigar bem nas competições ou fico disputando só para estar entre os oito. Fiquei fora do Pan de Guadalajara, do Mundial de Atletismo... Daqui a pouco vou passar sem ter ido bem em uma Olimpíada", disse o saltador. 

Jadel Gregório explica os problemas em Atenas e Pequim pelos entreveros que teve com seus técnicos nas duas oportunidades. Superadas as desavenças, ele fala com otimismo do resultado das operações, de sua participação apagada nos Jogos Mundiais Militares e do entrevero que teve com nomes fortes do atletismo brasileiro em 2009. 

Confira a conversa na íntegra, abaixo:

UOL Esporte – O que te levou a fazer essas cirurgias nos dois joelhos?
Jadel Gregório –
Eu sinto dores no joelho desde 1998, mas sempre fiz tratamentos de precaução, tratei com alongamento. Só que nos últimos anos piorou. Já tinha sentido em Pequim [Nos Jogos de 2008]. Esse ano foi o meu pior, mas a cirurgia sempre causa medo no atleta. Só que chegou ao ponto em que ou eu faço e volto a brigar bem nas competições ou fico disputando só para estar entre os oito. Fiquei fora do Pan, do Brasileiro... Daqui a pouco vou passar sem ter ido bem em uma Olimpíada.

UOL Esporte – Seus maus resultados em 2010, quando você voltou do período na Inglaterra, e 2011 podem ser creditados somente a essa lesão?
Jadel Gregório –
O que atrapalhou é que eu tive de me readaptar. Tive de voltar a fazer o que eu fazia na Inglaterra, onde eu fiquei cinco anos. Logo que eu voltei tive uma ruptura de 4cm na panturrilha. Voltei e fui para o Estadual. Ganhei, mas senti a perna no terceiro salto e tive de tratar para ir ao Mundial Militar.

UOL Esporte – E como foi nos Jogos Militares?
Jadel Gregório -
Cheguei lá sabendo que poderia não sentir nada ou poderia sentir aquela lesão. Estava um mês sem treinar. E aí entrei. Tinha um compromisso com a Marinha. Um dia antes tomei uma injeção analgésica, fiz bandagem no local. Fiz um salto e fui para a final, onde acabei tendo uma torção no joelho. Poderia ter me poupado dessa competição para ter tido tempo para chegar no Mundial, ou em um Brasileiro, ou em um Pan e saltar melhor. Eu queria competir e paguei o preço. Talvez não tenha sido frio de falar que não estava bem. Acho que fui guerreiro até demais.

[Nota da Redação: Jadel Gregório foi o sexto colocado nos Jogos Militares, justamente por ter sentido a lesão]

UOL Esporte – Houve alguma pressão da Marinha para que você competisse?
Jadel Gregório –
Não. Eles me ajudaram, inclusive. Depois da prova me levaram para fazer uma ressonância. Todos estavam cientes de que eu estava machucado.

UOL Esporte – Em 2010, quando você voltou da Inglaterra após o fim do programa de subsídios a atletas do exterior da CBAt, você deu uma entrevista que gerou polêmica. A confederação te rebateu até com uma carta.
Jadel Gregório –
Eu acho que eu não soube me expressar pelo fato de estar perdendo algo que era importante para mim. Estava meio nervoso. Se tivesse tido mais calma as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas hoje a CBAt paga meu hospital, todos os meus medicamentos. O que eu tinha de entender é que tem programas que atendem os atletas, enquanto outros precisam de uma certa negociação. Eu estava com resultados bons na Inglaterra, e aí tive de me readaptar.

[Nota da Redação: Na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2010, Jadel chegou a usar o termo “fracassados” ao se referir a quem tomou a decisão de cortar seu subsídio]

UOL Esporte – Aquela carta foi assinada por personalidades importante do atletismo, como Maurren Maggi, Nélio Moura, Vicente Lenílson, Vanderlei Cordeiro de Lima, Joaquim Cruz, Robson Caetano e outros. Isso te deixou magoado, de alguma forma?
Jadel Gregório –
Eu não citei nenhuma dessas pessoas. Eu falei aquilo, mas não para as pessoas que acharam que eu falei. O que eu pedi é o que a Fabiana [Murer, campeã mundial no salto com vara] está tendo, que é poder treinar fora. Os resultados dela estão crescendo. Só pedi para manter isso para mim.

UOL Esporte – E quem eram os tais “fracassados”?
Jadel Gregório –
Isso não vem mais ao caso. O atletismo evoluiu.

UOL Esporte – Você chegou a falar com alguma das pessoas que assinaram aquela carta?
Jadel Gregório –
Eu não tenho o que conversar com essas pessoas. Eu não devo explicação para atletas, só para o presidente e os diretores.

UOL Esporte – O que você teve de diferente na Inglaterra, que foi o período em que você teve seus melhores resultados?
Jadel Gregório –
Foram cinco anos lá. Tive mais tempo, mais calma, um técnico mais presente, mais condições de treinamento. Em menos de um ano, em 2006, fui prata no Mundial indoor. Fui vice-mundial em Osaka, em 2007. Saltei a melhor marca do mundo naquele ano. Em 2008 eu me preservei para os Jogos Olímpicos, mas hoje eu acho que a gente errou. Eu devia ter competido mais.

UOL Esporte – Você esteve em duas Olimpíadas (2004 e 2008), em ambas com bons índices. Nas duas você foi à final, mas não conseguiu a medalha. O que aconteceu?
Jadel Gregório –
Em 2008 foi meio confuso, porque eu fui com dois técnicos. Um era o Peter Stanley [técnico do brasileiro em Londres], o outro era o Pedrão [Pedro Pires de Toledo], que foi como meu ajudante. Só que na hora eles tiveram um desentendimento e acabei ficando sem técnico nenhum.

RELAÇÃO COM O ISLAMISMO

Hoje Jadel Gregório treina pelo ASA, clube de atletismo de São Bernardo. O acordo foi intermediado pelos representantes do Centro de Divulgação do Islã (CDIAL) na cidade do ABC, que viraram patrocinadores da equipe.

“Quando você consegue um acordo assim você sempre fica mais tranquilo, te dá uma segurança maior. O que mudou mais é que tenho mais proximidade com a comunidade islâmica, e posso rezar mais”, disse Jadel, que converteu-se ao islamismo em 2005 por influência da esposa, muçulmana, e chegou a tentar mudar de nome.

“Eu não consegui. É um trâmite burocrático muito grande. Aí acabei mudando só o sobrenome. Por isso resolvemos batizar nosso filho como Jade, que era o nome que eu queria para mim”, concluiu.

UOL Esporte – E em 2004, quando você tinha a segunda melhor marca do ano?
Jadel Gregório –
Eu tive uma lesão um mês antes dos Jogos, mas a gente conseguiu recuperar a tempo na preparação. Entrei muito bem na competição. Só que ali a sintonia entre técnico e atleta já não estava boa. E quando é assim não funciona.

[Nota da Redação: À época, o técnico de Jadel era Nélio Moura, que treina, entre outras, Maurren Maggi. Meses depois de Atenas, o desentendimento entre os dois levou à ruptura da parceira e Jadel mudou-se para Presidente Prudente]

UOL Esporte – Você fica triste que nos momentos mais importantes você tenha sido atrapalhado por problemas com técnicos?
Jadel Gregório –
Acho que o Brasil fica triste. Eu nunca deixei a desejar em uma competição, fui sempre com garra e determinação. Eu sou muito contente com o que eu fiz. Fui talvez o único atleta a estar nove anos entre os melhores do mundo. Eu vivi tudo, sempre coisas boas. As pessoas vêm falar comigo nas ruas. Todo lugar em que eu vou as pessoas me param para dar os parabéns, para tirar fotos.

UOL Esporte – Você sente que foi cobrado demais pela ausência das medalhas olímpicas?
Jadel Gregório –
A imprensa às vezes age de modo negativo. O Brasil é futebol, e o futebol também não traz medalha. Os outros esportes são menos remunerados. Se ficou em décimo ou terceiro, que bom. Pelo menos teve alguém que chegou lá. Se você só tem arroz na sua mesa, pelo menos tem isso.

UOL Esporte – E hoje você tem uma estrutura e um técnico que podem te levar à medalha em 2012, em Londres?
Jadel Gregório –
Eu tenho o Antonio Carlos [Gomes, consultor de preparação física e fisiologia do Corinthians] e a equipe dele. Tenho um preparador físico, um cuidado com nutrição, tenho a Samara [mulher de Jadel] na fisioterapia. Tenho todo o suporte da Escola Paulista de Medicina, coordenada pelo Moises Cohen. Até agora, a gente só não teve sorte, porque as lesões atrapalharam.

Medalhas

  • País
    Ouro
    Prata
    Bronze
    Total
    EUA 92 79 65 236
    CUB 58 35 43 136
    BRA 48 35 58 141

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