Descedente de maia rebate preconceito com ouro
O índio Mateo Flores tinha 33 anos quando deu para a Guatemala a primeira medalha de ouro continental, vencedor da maratona do Pan de 1955. Na bagagem, ele já tinha o feito de ser o primeiro latino-americano a vencer a tradicional maratona de Boston, três anos antes. Virou ídolo local em um país em que a maioria indígena era segregada pela aristocracia local. Ele mesmo desfilou em carro aberto pela capital, mas pelos bairros periféricos para não perturbar os poderosos, que consideravam os índios uma degeneração histórico-cultural da Guatemala.
Descendentes da civilização maia e tolteca, que foi arrasada pelos colonizadores espanhóis no século 16, os índios somam cerca de 40% da população da Guatemala. De acordo com os registros históricos, tratava-se de uma civilização bastante evoluída que, entre outras coisas, usava um sistema matemático considerado complexo para a época, além de ter inventado o chocolate. Porém, contrariando o senso comum e a vontade das classes dominantes dos anos 40, a cultura maia não se extingüiu, sendo que alguns índios ainda usam dialetos locais para se comunicar, muito embora também tenham assimilado a cultura branca
Obra dos governos Juan Arévalo e Jacobo Guzmán, que entre 1944 e 1954 promoveram a inserção social da população indígena e estabeleceram uma reforma agrária, desapropriando as fazendas bananeiras da United Fruit Company, empresa norte-americana que mandava e desmandava na América Central. Mas por contrariar os interesses da elite local e dos Estados Unidos, o governo democrático foi derrubado por um golpe militar apoiado por aviões norte-americanos.
Se a igualdade que aristocratas guatemaltecos abominavam não chegaria pelas leis, ela chegou pelas pernas de um maratonista. Flores recebeu incontáveis homenagens, como dar seu nome ao Estádio Nacional, o maior do país. Mesmo assim, ele vendeu os seus troféus para comprar uma bicicleta, meio de transporte para ir trabalhar em uma fábrica de tecidos.
Mas a história deste país da América Central não se resumiu a Flores. Entre os atletas que foram ouro, dois deles o fizeram no tiro. Víctor Manuel Castellanos venceu em 1971. Attila Solti subiu no lugar mais alto do pódio em 1995 e 1999. Em Winnipeg, também triunfou no taekwondo de Winnipeg com Heidy Juarez, na categoria até 67 kg.
Para a edição de 2007, a delegação guatemalteca está bastante otimista. Ainda que com apenas 130 atletas, 16 a menos do que em 2003. Hugo Recinos, diretor técnico do Comitê Olímpico Guatemateco, diz não ter projeções de quantas medalhas o país pode conquistar, muito embora afirma esperar uma melhor perfomance em relação a 2003, quando o país ficou sem ouro (conquistou três pratas e nove bronzes).
As modalidades que podem render alguma medalha são: ciclismo, taekwondo, badminton, remo e vela.