Um atleta bate em uma mini bola de beisebol com a mão para que ela chegue com força a um paredão que está a mais de 20 metros de distância. Na arquibancada, o público entende do assunto, apoia os atletas da casa e canta uma música que lembra muito o tema de Quico, personagem da série infantil Chaves. O cenário descrito retrata a competição de pelota basca, o esporte mais bizarro dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara.
As competições começaram na última sexta-feira, sob os olhares de arquibancadas lotadas. São dez modalidades divididas em três tipos de quadra, com regras e maneiras de se jogar muito diferentes entre si.
Rafael Pacheco é um dos melhores do mundo no frontenis, mas não conseguiu vaga no Pan-2011
A mais chamativa de todas é aquela em que os atletas usam as mãos como raquete. Uma bola de couro pequena, um pouco mais leve que a de beisebol, é atirada para a parede com um tapa. O objetivo é golpear antes que a bola dê dois toques no chão. Depois que ela toca na parede, é a vez do adversário bater e assim por diante, até que alguém cometa um erro e ceda um ponto ao rival.
Para proteger as mãos, os atletas usam uma película de 1mm de espuma na palma e nos dedos. A pressão é tão grande que antes de bater na bola os jogadores fecham as mãos para melhorar a circulação. Depois dos jogos, sobram calos para cada um dos participantes da partida.
Na arquibancada, todos parecem entender o que está acontecendo, a despeito da complexidade e da rapidez do jogo. O público apoia e canta até musiquinha. A canção, aliás, lembra muito o tema do personagem Quico, de Chaves. Só que em vez de “Quico, Quico, rá, rá, rá” é “México, México, rá, rá, rá” (leia a “letra” completa, soletrada pela própria torcida, no box abaixo).
“Não sei tem a ver com o Chaves. É um canto muito tradicional no México. Não sei bem de onde vem. Acho que é da Copa do Mundo de 1986, que aconteceu aqui. Só sei que todos cantam em vários esportes e são só sons, sem significado”, disse Fabián Rizo, técnico de pelota basca e irmão de um dos mexicanos que disputam a pelota goma, uma das várias vertentes do esporte presentes no Pan.
A pelota basca tem origem na região homônima na Espanha e espalhou-se por alguns países ao longo dos anos. Atualmente, o México domina o esporte ao lado da França e da própria Espanha, não por acaso dois países com forte influência basca.
Chiqui ti bum, a la bim bum ba (2x)
A la vio a ala vao
A la bim bum ba
México, México, rá, rá, rá
Em todas as modalidades, o objetivo é basicamente o mesmo: acertar a bola na parede que está à sua frente antes que ela dê dois pingos no chão. O que difere uma da outra é o tamanho da quadra, a maneira como se golpeia e até o material da bola. O UOL Esporte foi conferir como tudo isso funciona e teve um auxílio ilustre na tarefa.
Rafael Pacheco é natural de Guadalajara e bicampeão mundial de frontenis, uma das dez modalidades presentes no Pan, mas não está competindo. Ele disputou a seletiva para a torneio, mas terminou em terceiro. Por isso, resolveu trabalhar como voluntário no evento.
“Fiquei muito frustrado de não jogar em minha casa. Mas isso ficou para trás e agora estou feliz de pelo menos poder ajudar durante a competição”, disse Rafael Pacheco.
Reconhecido por quase todo mundo na área de competição, La Bachicha, como é conhecido, detalhou a pelota basca para a reportagem. O esporte é disputado em três tipos de quadra. Na primeira, com 30 metros de comprimento, são disputados o frontenis (com uma raquete de tênis adaptada) e a paleta goma, com uma raquete de madeira e uma bola mais leve.
Na de 36 metros, se jogam as duplas com a mão e a paleta couro, com raquete de madeira e bola de couro. Na última, o trinquete, são jogadas a paleta goma (raquete de madeira com bola mais leve) e a paleta couro (raquete de madeira com bola mais pesada), além da competição individual com a mão.
No Brasil, praticar o esporte é muito mais difícil do que pode parecer. A única quadra oficial de pelota basca fica em São Paulo, no Club Athletico Paulistano. Os brasileiros que praticam a modalidade chegaram a pleitear uma vaga no Pan de Guadalajara, mas não foram bem no Mundial de pelota basca e acabaram fora da competição.
Veja o perfil dos atletas brasileiros