Leandro Cunha, o Coxinha, comemora medalha de ouro na categoria meio-leve do Pan
Quem conhece judô sabe que quando o atleta consegue o ippon, o golpe perfeito, a luta termina. Nesta sexta-feira, o brasileiro Leandro Cunha, o Coxinha, desafiou esse conceito. Após uma série de confusões da arbitragem, ele conquistou a medalha de ouro do Pan na categoria 66 kg com quatro ippons em apenas três lutas.
Nem a final, contra o norte-americano Keneth Hashimoto, que deveria ser normal, escapou. O brasileiro conseguiu um waza-ari, computado pela arbitragem. Mas a árbitra colombiana Michele Leone se complicou com as punições. Deu duas para Hashimoto e, já no minuto final, marcou um shido duplo por falta de combatividade. Os árbitros discutiram muito e até a mesa central entrou na discussão. Só depois de alguns segundo o brasileiro foi decretado o vencedor - três shidos e um waza-ari valem como ippon e encerram o combate.
O nome do novo campeão pan-americano é Leandro Cunha, mas ninguém no judô brasileiro o conhece assim. O apelido, Coxinha, é dos tempos de criança e ele nunca o abandonou, mesmo após se tornar um dos melhores judocas do planeta.
O apelido foi criado por colegas de treino. A mãe do lutador fazia coxinhas e vendia para os professores de judô do filho. Aos poucos, todos começaram a chamar Leandro pelo nome do quitute e ele nunca reclamou.
Em sua estreia, foram três ippons para vencer. No primeiro, ele projetou o canadense Sasha Mehmedovic, mas o rival conseguiu se virar e não tocou com as costas no chão. O juiz mexicano Eric Romero, porém, marcou o ippon. A mesa de arbitragem apontou o erro e a marcação foi retirada.
Técnico do brasileiro, Luiz Shinohara não esperou. Achando que Coxinha já tinha vencido, foi para a área de aquecimento, se preparar para a luta de Bruno Mendonça. Ele só voltou porque o médico da equipe, Breno Schor (que também estava se dirigindo para onde Shinohara estava), olhou para trás e viu que a luta tinha voltado.
Quando o técnico voltou, mais uma confusão. Coxinha, mais uma vez, jogou o canadense, que fez o mesmo movimento e evitou o contato com chão. O juiz, de novo, marcou ippon e teve de voltar atrás na decisão. Só na terceira vez em que derrubou o rival, o brasileiro comemorou a vitória – antes, porém, fez questão de olhar para a mesa para saber se o golpe iria ser validado.
"Disseram que na primeira foram três ippons. Mas na primeira acho que foi um waza-ari e depois outro waza-ari. Na segunda foi ippon. Na terceira foi waza-ari também. Mas independente de ser ippon ou waza-ari, o importante é que sai com o ouro", disse, sorrindo, o campeão.
As confusões, porém, não acabaram por aí. Na semifinal, contra o mexicano Francisco Carreon, o problema foi oposto. Ele mandou Carreon para o chão, que inicialmente caiu com a lateral do corpo, mas, no mesmo movimento, o brasileiro forçou o mexicano a tocar com as costas no chão. A juíza, agora a norte-americana Barbara Houston, marcou um yuko. Shinohara protestou e a mesa, novamente, alterou a marcação. Agora, sim, para ippon.
A categoria até 73 kg tinha um dono até 2009. Quando o medalhista olímpico Leandro Guilheiro subiu de peso, porém, deixou um herdeiro: Bruno Mendonça E nesta sexta-feira, esse judoca fez o que o seu antecessor não conseguiu: conquistou o ouro na categoria nos Jogos Pan-Americanos, batendo o argentino Alejandro Clara com um ippon em apenas 20 segundos de luta.
Hoje vice-campeão mundial, Coxinha disputou os Jogos Pan-Americanos pela primeira vez após a decepção de 2007. Naquela temporada, ele teve resultados melhores do que seu rival pela vaga no Pan do Rio, mas acabou perdendo a vaga. O escolhido foi João Derly, na época, atual campeão mundial. O gaúcho foi ao Pan e levou o ouro – e, um mês depois, conquistou o bicampeonato mundial – e ninguém comentou a escolha.
Leandro só assumiu o posto de titular dos 66 kg quando o gaúcho deixou a categoria. Hoje, Derly luta nos 73 kg e se recupera de uma série de três cirurgias graves no joelho, nos últimos três anos.
"Esse ouro foi para tirar a zica da prata. Duas finais de mundial são conquistas muito importantes, mas a gente sempre sabe que teve chance de ser campeão mundial. Mas não posso ficar olhando o passado, ainda mais agora que tenho a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos. Agora é só olhar para Londres e levar o ouro, para fechar bem esse ciclo", comemorou.
Katherine perde e Brasil não é mais 100%
Última brasileira a disputar sua medalha, Katherine Campos perdeu e tirou do Brasil os 100% de aproveitamento em medalhas no judô. Na categoria até 63 kg, ela foi derrotada pela canadense Stéfanie Tremblay na decisão da medalha de bronze.
Antes, ela tinha passado pela porto-riquenha Jessica Garcia com dificuldades, em luta que incluiu até uma queda do tablado onde estão montados os tatames. Logo depois, teve uma atuação desastrosa contra a mexicana Karina Acosta e perdeu por punições.
Antes dela, o Brasil subiu ao pódio em todas as categorias, com com Leandro Cunha (66 kg), Bruno Mendonça (73 kg), Leandro Guilheiro (81 kg), Tiago Camilo (90 kg), Luciano Correa (100 kg) e Rafael Silva (+100 kg), no masculino, e Rafaela Silva (57 kg), Maria Portela (70 kg), Mayra Aguiar (78 kg) e Maria Suelen Altheman (+78 kg).
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