República das bananas ganha medalhas em briga
Honduras sofre com a desigualdade social e os altos índices de desemprego. O panorama atual não é novidade para a população, afinal, o país tem histórico de dificuldades financeiras, políticas e sociais.
Até mesmo em seu período de maior prosperidade, quando recebeu investimento de empresas mineradoras dos Estados Unidos no fim do século 19, o país não conseguiu superar sua fragilidade. Honduras atingiu desenvolvimento no plano macroeconômico, mas a concentração do capital nas mãos da elite pouco mudou o cenário de pobreza.
Na primeira metade do século seguinte, foi a vez de grandes companhias norte-americanas do ramo de frutas se instalarem no país. A banana, rapidamente, tornou-se o principal artigo exportado, o que rendeu a Honduras o apelido de Banana Republic (Repúblicas da Bananas).
Nada, porém, que garantisse uma evolução efetiva no quadro econômico hondurenho, já que os lucros eram remetidos aos Estados Unidos. E se não bastasse isso, Honduras ainda enfrentou conflitos com seus vizinhos Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O mais célebre ficou conhecido como a “Guerra do Futebol”.
Durante os anos 1950 e 1960, cerca de 300 mil salvadorenhos migraram para Honduras em busca de emprego, devido à recessão. No entanto, os hondurenhos sofriam do mesmo mal. Em 1969, o presidente Oswaldo López Arellano promoveu uma reforma agrária em Honduras, forçando cerca de 100 mil salvadorenhos a retornarem para o país natal.
Neste período, com ajuda da imprensa, o governo local começou a culpar os imigrantes de El Salvador pelos problemas internos. A postura gerou duras reações. Um grupo nacionalista da capital Tegucigalpa bradava os seguintes dizeres (também encontrados em adesivos nos carros): “Hondureño, toma un leño y mata a un salvadoreño”.
Com esse ambiente, as seleções de futebol dos dois países se encararam pelas eliminatórias para a Copa de 1970. No jogo de ida, em Honduras, os adversários, na noite anterior, precisaram dormir longe das janelas para não serem atingidos pelas pedras arremessadas da rua. No duelo de volta, em El Salvador, a tensão teve desdobramento mais grave. Conflitos entre torcedores causaram a morte de 12 hondurenhos.
Para piorar, em Honduras, estabelecimentos de salvadorenhos foram saqueados e novas mortes aconteceram, desta vez dos vizinhos. As fronteiras (outro motivo de embate), então, foram fechadas e as relações entre os países, interrompidas. Ainda em 1969, o presidente de El Salvador, Fidel Hernández, acusando Honduras de não respeitar os direitos humanos dos imigrantes, invadiu o país.
Começou, então, a Guerra do Futebol. O conflito armado durou quatro dias e deixou como saldo quase 5 mil vítimas. Quanto à questão fronteiriça, Honduras ganhou na Corte Internacional de Haia cerca de dois terços do território em disputa. A decisão saiu apenas em 1992.
O país, assim, conheceu o capítulo mais famoso de sua história “esportiva”. Afinal, em termos de medalhas, o retrospecto hondurenho é mais frágil do que sua economia. Em Pan, são apenas quatro medalhas, sendo uma de prata (em 1999) e três de bronze. Nos Jogos Olímpicos, Honduras nunca foi representada no pódio. Os hondurenhos apostam em esporte de combate (como judô, boxe e taekwondo) para tentar suas poucas façanhas. Assim como na vida real, Honduras e seu esporte estão sempre na luta.