Pugilista bronze no Pan tinha medo do boxe. 'Achava coisa de maluco'

Fábio Aleixo

Do UOL, em Toronto (CAN)

O Brasil conquistou nesta quinta-feira sua primeira medalha na competição de boxe do Pan de Toronto e ela veio por intermédio de Joedison de Jesus Teixeira, o popular Chocolate. Na semifinal da categoria meio-médio ligeiro (até 64kg), foi derrotado pelo cubano Yasnier Toledo por 3 a 0 e ficou com o bronze.

E é exatamente do boxe cubano que vem o apelido do brasileiro. A alcunha que carrega nada tem a ver com a sua cor ou gosto pelo doce. O baiano de apenas 21 anos é chamado de Chocolate por sua semelhança física e de estilo de luta com Kid Chocolate, um ex-pugilista de Cuba, que fez muito sucesso na década de 1930 e encerrou a sua carreira com 136 vitórias, dez derrotas e seis empates no cartel.

"Meu primeiro técnico no boxe, o Messias Gomes, foi quem me colocou este apelido. Ele me disse que eu era muito parecido com o Kid Chocolate pela aparência física e meu comportamento no ringue. Eu já pesquisei um pouco sobre e ele e vi que sou parecido fisicamente, mas não consegui achar vídeos (risos)", disse ao UOL Esporte o brasileiro que na semifinal em Toronto caiu ante o atual campeão do Pan e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres.

O Pan é a primeira grande competição da carreira de Chocolate, que começou a lutar boxe aos 11 anos por influência do pai, Joceval Teixeira, um ex-pugilista amador.

"Quando meu pai estava por encerrar a carreira, resolvi começar a treinar como uma forma de incentivá-lo. Mas no começo eu achava que era um pouco coisa de maluco ficar levando porrada na cabeça. Hoje já me acostumei e não acho que seja mais uma loucura", disse o sorridente Chocolate.

Nascido na Bahia, mas criado em São Paulo pela família, o pugilista contou que ao longo de sua infância e juventude teve de lidar com uma série de preconceitos na época em que estudava.

"Sofri pela minha cor, por ser nordestino e por todos acharem que fazer boxe era coisa de doido. Mas eu consegui superar tudo isso e me incluir na sociedade", disse o boxeador, que também se apega bastante à religião.

Antes de todos os seus combates, Chocolate se agacha em seu córner e faz uma oração de cerca de 30 segundos antes de começar a trocar soco com os adversários.

"É sempre bom agradecer a Deus pelas oportunidades que ele me dá e acho que isso é algo que todos deveriam fazer", afirmou.

A oportunidade para Chocolate estar no Pan surgiu em janeiro quando Everton Lopes (campeão mundial dos meio-médios ligeiros em 2011) optou por seguir o caminho do boxe profissional. Depois de quase quatro anos na reserva, não desperdiçou a chance e agora quer fazer a sua estreia olímpica na Olimpíada do Rio, em 2016.

"Vou continuar aprimorando minha técnica para chegar lá. Neste Pan eu vim para buscar a medalha de ouro, mas infelizmente não consegui. O esporte é assim mesmo", concluiu.

Como foi o combate que valeu o bronze

A combate até começou equilibrado com o cubano sendo melhor na curta distância e Chocolate encaixando alguns golpes. No córner o técnico brasileiro gritava para não atacar. A tática era não se expor e forçar o rival a partir para cima abrindo espaço a contragolpes.

A estratégia de Chocolate foi percebida e Toledo encontrou um antídoto no segundo round. Ele batia e logo dava um passo para trás não permitindo que houvesse o contra ataque. Desta maneira o cubano abriu dois pontos de vantagem.

Ambos voltaram para a luta sem mudar a tática no round decisivo o que permitiu que Toledo continuasse com a luta controlada. Os movimentos do brasileiro estavam marcados e como não houve alteração na estratégia o cubano conseguia entrar na guarda de Chocolate e pontuar.

Somente nos segundo finais o brasileiro tentou atacar, mas já não havia tempo. Como no boxe a derrota na semifinal concede o bronze Joedison subiu no pódio para receber o bronze.

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