O Brasil nunca se importou tão pouco com o Pan. Prioridade é o Rio-2016

Bruno Doro, Fábio Aleixo e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Toronto (CAN)

A cada quatro anos era a mesma coisa. Os Jogos Pan-Americanos eram tratados como um evento de primeira linha por todo o universo esportivo brasileiro. Era o grande teste para os Jogos Olímpicos do ano seguinte. Para muitos, chegava a grande chance de brilhar em frente às câmeras de TVs, com medalhas que não viriam no ambiente olímpico.

Em Toronto-2015, esse cenário mudou bastante. O Pan-Americano que começa nesta sexta-feira (a abertura está marcada para 19h45 de Brasília) é o primeiro em que o Brasil não liga muito para os resultados. Explicações para isso não faltam.

Primeiro, o país tem vaga olímpica garantida em todas as modalidades, com exceção do hóquei na grama. Isso quer dizer que atletas que normalmente só apareciam graças aos resultados no Pan já estão focados no Rio-2016 e em como aproveitar uma Olimpíada em casa. "O Pan não é uma competição crucial para nós. Já estamos classificados. Achei melhor deixar meu posto em aberto, para testar novos conjuntos", conta Rodrigo Pessoa, campeão olímpico de saltos, no hipismo.

Com isso, os campeonatos mundiais de 2015 ganharam importância. Afinal, é melhor medir forças contra adversários de todo o planeta e em um evento de alto nível comprovado do que com rivais apenas de um continente, incluindo que nem sempre fazem parte da elite do esporte. Piorando ainda mais as coisas para Toronto-2015, o calendário desses mundiais não ajudou. A maioria será disputada nos próximos dois meses. Isso significa que os atletas não chegam ao Pan no auge de sua forma.

"Eu gosto muito do Pan e conquistar uma terceira medalha de ouro é importante. Mas é verdade que ele é uma etapa da preparação para o Mundial, que é o principal evento do ano", admite o judoca Tiago Camilo, dono de duas medalhas olímpicas e dois ouros pan-americanos. O mundial de judô será disputado no final de agosto, no Cazaquistão.

Não é uma visão isolada. Campeão olímpico em 2008 e recordista mundial em duas provas da natação, Cesar Cielo nem mesmo veio ao Canadá: preferiu se focar nos treinamentos para o Mundial de Khazan, na Rússia, que começa no fim deste mês. A maioria do time brasileiro de natação vai direto do Canadá para a Rússia.

"A coincidência com os Mundiais tornou esse Pan diferente. Não falo em número de medalhas, porque aumentou a distribuição por países, mas sempre analisamos o que deu certo e o que não deu, independentemente de quem veio", admite Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Organizador do Rio-2016. "Não fazemos exigência nenhuma para as confederações quanto ao que farão no Pan. Estamos focados totalmente em 2016", completa Adriana Behar, gerente geral de planejamento esportivo do COB.

Existem, é claro, exceções. Algumas apostas do esporte brasileiro estão estreando em Toronto. É o caso de Marcus Vinícius D'Almeida, vice-campeão da Copa do Mundo de tiro com arco. Ou das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, campeãs mundiais da classe 49erFX, da vela. Jovens, os três fazem parte da nova geração verde-amarela e nunca participaram de eventos da magnitude do Pan. Conhecer o clima de vila Pan-Americana, conhecer atletas de outras modalidades e dar entrevistas explicando resultados são preparações mais importantes do que a conquista da medalha em si.

O resultado de tudo isso é que a colocação no quadro de medalhas, que já foi uma obsessão dos cartolas brasileiros em edições anteriores, virou algo secundário no Canadá. "O top 3 é o normal em número de medalhas, mas não será um drama se não ficar. Mas acho difícil que não consiga", avisa Marcus Vinícius Freire, superintendente do COB.

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