Canadá quer se transformar no Brasil do futuro e para isso usa o Pan-2015
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Montreal (CAN)
Em Montreal para a inauguração de um centro esportivo, o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Tomas Bach, discursava sobre as mudanças no processo de escolha da sede da Olimpíada quando interrompeu sua fala para se dirigir ao presidente do Comitê Olímpico Canadense, Marcel Aubut: "Pode começar a pensar nisso (concorrer aos Jogos)". Toda a visita do poderoso dirigente olímpico ao Canadá foi permeada por conversas sobre a futura candidatura do país. E o Pan-2015 em Toronto tornou-se um degrau para essa postulação.
Na prática, o Canadá quer repetir o Brasil que usou a competição continental que sediou no Rio, em 2007, como preparação para a campanha vitoriosa para levar a Olimpíada de 2016. Por isso, o desempenho da organização do evento que começa nesta sexta-feira tornou-se crucial para o país. Inicialmente, a candidatura olímpica deve ser apenas para 2028, mas há a possibilidade de antecipá-la para 2024.
Durante sua estadia em Toronto, Bach foi recebido pelo prefeito de Toronto, John Tory, que fez várias perguntas sobre o processo de escolha e quais os requisitos necessários para se candidatar. Quem participou da reunião ficou com a impressão de que ele tinha intenção de postular já para 2024. Inicialmente, essa hipótese tinha sido descartada quando a população reclamou dos custos dos Pan-2015.
"Vemos grande entusiasmo em Toronto. Posso encorajar a comunidade de Toronto a participar. Um Pan bem-sucedido pode ajudar", afirmou o Thomas Bach. "Pode ser um degrau para pegar o grande evento olímpico", completou Aubut.
O Pan até agora não encantou os cidadãos do Toronto por sofrer com a resistência da população, que tem reclamado do trânsito. A competição se tornou a mais cara da história do continente ao ver seus gastos triplicarem. Além disso, há problemas de logística e segurança nos dias prévios ao evento, mas será necessário o seu início para verificar se o campeonato será bem-sucedido.
O que os canadenses têm feito até agora é agradar Bach de todas as maneiras. Em Montreal, reconstituíram na universidade local a atmosfera dos Jogos de 1976 em que o cartola alemão, então atleta, ganhou sua medalha de ouro na esgrima. Até um pódio foi montado para recebê-lo. Ele se emocionou e chorou em discurso.
Fora a Olimpíada, o Canadá também mira outros eventos. Já recebeu a Copa do Mundo feminina, em 2015, o que poderia abrir uma brecha na Fifa para candidatura à Copa. Em discurso, o prefeito de Montreal, Denis Coderre, também deixou claro seu interesse em atrair mais eventos esportivos após o Mundial das mulheres: "Quem sabe um time de beisebol profissional?", disse, para delírio da plateia.
Montreal tem uma experiência esportiva que não deu certo com a Olimpíada de 1976. O evento gerou uma dívida que demorou anos para ser paga. Ainda assim, o Canadá recebeu, depois disso, dois Jogos de Inverno, e chega ao seu segundo Pan em 16 anos. Dependendo do que acontecer a partir desta sexta-feira, volta a mirar alto de novo.