Agressividade e irritação do técnico. Como o Brasil foi à final do handebol
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto
Campeã mundial, a seleção brasileira de handebol feminina tem uma qualidade que destoa no Pan-2015, como demonstram as goleadas seguidas. Sua classificação à final foi, com placar elástico de novo, 40 a 22 diante do Uruguai. Mas o clima esteve longe de ser tranquilo. O jogo teve série de agarrões, expulsões e irritação do técnico Morten Soubak apesar do placar folgado.
Um reflexo da exigência constante que o treinador e as próprias atletas se impõem para manter o ritmo forte mesmo diante de adversárias mais fracas. Após fazer 120 gols em três jogos, ele já tinha reclamado de erros na defesa. E pediu mais agressividade.
"Precisamos pensar o que vamos levar daqui, independente do resultado. Há coisas e elementos que precisamos cobrar, táticas e técnicas. Estamos cientes disso, avaliamos se acertou ou errou mesmo se ganhou por 20 ou 30 pontos", declarou.
Foi atendido pois as brasileiras forçaram a marcação e chegaram a ter quatro jogadoras expulsas. Não era o suficiente para Morten. Ele cobrava mais e se irritou com um erro de passe a ponto de jogar seu número de substituição no chão da quadra. Pediu tempo e deu um bronca nas atletas que já tinham então quase o dobro dos pontos das uruguaias.
"Não tenho cérebro para baixar a cobrança, tem que pedir sempre o máximo", afirmou o treinador.
No segundo tempo, seu time abria o placar, mas as mãos de Morten estavam na cabeça em demonstração de impaciência. Voltou a gritar com o time a cada espaço que era cedido na defesa. Em uma falha de marcação de Ana Paula Rodrigues, ele apontava para o chão para mostrar onde ele deveria estar. Amanda Andrade foi outra que sofreu com uma bronca cara a cara do treinador.
Toda esta cobrança de Morten teve reflexos no ataque das uruguaias que teve 51% de aproveitamento - 22 gols em 43 tentativas. O índice contrasta com as brasileiras que balançaram as redes em 80% dos arremates - 40 gols em 50 chutes. As jogadoras aprovam a exigência do técnico, como atesta a armadora Deonise.
"Independente do placar temos metas para cumprir. Mudamos posições de jogadoras e estamos nos adaptando".
Neste Pan, o Brasil não está só em busca da medalha de ouro, quase uma barbada: quer a perfeição. A final será contra o vencedor de México e Argentina em partida que ocorre nesta quarta. A decisão está marcada para sexta-feira. Todo este cuidado e cobrança no Pan é para o time fazer bonito no mundial em dezembro deste ano e nas Olimpíadas do Rio 2016.