Horas no hospital e carreira sob risco. A vida de um medalhista do Pan
Fábio Aleixo
Do UOL, em Toronto (CAN)
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AP Photo/Felipe Dana
Kevin McDowell (primeiro à esq.) ficou com a medalha de prata no triatlo
Uma prata em Jogos Pan-Americanos pode não ser valorizada por muitos. Mas para o americano Kevin McDowell, a medalha que ele ganhou neste domingo na prova de triatlo em Toronto (CAN) tem sabor especial e o peso de uma enorme superação. O jovem de 22 anos batalhou contra um câncer no sangue e saiu vencedor.
Câncer este que o acometeu quando tinha apenas 18 anos e o deixou afastado de treinos e competições por cerca de seis meses. Foram longas semanas de tratamento à base de quimioterapia e a incerteza de que conseguiria voltar um dia a fazer o que mais amava: praticar triatlo.
McDowell foi diagnosticado com Linfoma de Hodgkin no início de 2011, apenas três dias após disputar sua primeira prova como profissional. No ano anterior, já havia dado mostras de ser um prodígio da modalidade ao ficar com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude de Cingapura e ficar com o bronze no Mundial Júnior de Budapeste.
"Durante esta minha primeira prova como profissional eu comecei a sentir uma dor no peito estranha, mas não achei que fosse nada de anormal. Quando cheguei em casa, minha mãe viu um nódulo no meu pescoço. Como ela é enfermeira, me mandou fazer um exame no dia seguinte. E três dias depois da minha prova fui diagnosticado com câncer", contou em entrevista ao UOL Esporte.
"Com o câncer diagnosticado, comecei meu tratamento, que durou seis meses. Todas as segundas-feiras eu tinha de ir ao hospital e ficar três horas ali fazendo quimioterapia. Durante todo este período, só mantive meu pensamento positivo, que iria conseguir superar tudo. Não queria que as penas tivessem pena de mim, queria viver o mais normalmente possível. Mas houve momentos de dificuldades, como quando não podia ficar perto das outras pessoas porque estava com meu sistema imunológico enfraquecido", relembrou.
A volta de McDowell às competições só aconteceu em março de 2012. Havia retomado os treinamentos em agosto de 2011, mas sempre com cautela.
Precisou readquirir peso e recuperar os músculos perdidos durante o tratamento. Por causa disso, perdeu qualquer possibilidade de se classificar para os Jogos Olímpicos de Londres-2012.
Aos poucos, porém, foi recuperando a forma e se estabelecendo entre os melhores do planeta. Hoje, ocupa a 34ª colocação do ranking mundial e fez em Toronto a sua estreia em grandes competições poliesportivas entre os adultos.
"Esta medalha de prata que ganhei aqui significa muito para mim e gostaria de dividir com todas as pessoas que sempre estiveram ao meu lado e me apoiaram nos momentos de dificuldade", disse McDowell, que completou a prova em 1h48min59, apenas um segundo atrás do mexicano Crisanto Grajales.
O próximo desafio do americano será o evento-teste do triatlo para os Jogos Olímpicos do Rio de janeiro, que será realizado no próximo dia 2 de agosto na Cidade Maravilhosa. Se terminar entre os oito primeiros, já terá vaga assegurada nos Jogos.
"Claro que estou muito focado em disputar a Olimpíada e farei tudo para isso. Mas quero desfrutar o momento", afirmou o atleta que carrega em seu punho direito em todas as provas que disputa uma pulseira da Cal's Angels, uma instituição da cidade de Chicago que trata com crianças com câncer.