1ª medalhista do Brasil no Pan era coroinha e aprendeu judô na igreja
Antoine Morel e Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
Quando Nathália Brígida tinha 11 ou 12 anos, seus fins de semana eram cronometrados. Ela era coroinha. Chegava cedo à igreja, ajudava o sacerdote na missa e treinava judô. "O sacerdote era faixa preta", conta a brasileira, primeira atleta do país a subir aos Jogos Pan-Americanos de Toronto.
Foi essa história incomum que levou a paulista de Atibaia, de apenas 22 anos, à medalha de bronze na categoria ligeiro. "Eu era coroinha, ajudava nas missas e tudo mais. O sacerdote era faixa preta e convidou todos os coroinhas a treinar. Ele montou o tatame na igreja mesmo", lembra.
A garota travessa, que aos cinco anos foi empurrada para o judô por ser hiperativa e não gostou muito, ganhava uma nova chance no esporte. Dessa vez, porém, tudo deu certo. "Nós já sabíamos que o judô na Igreja não duraria muito tempo. O sacerdote avisou que iria terminar a ordenação e não poderia continuar com as aulas. Então, todos os coroinhas foram para uma academia que tinha aberto na cidade".
A partir daí, a história é batida. Títulos apareceram, veio o convite para treinar em Minas Gerais e, há pouco mais de um mês, a convocação para o Pan. Na vaga da campeã olímpica Sarah Menezes, poupada para recuperar a forma.
"A Nathália é muito disciplinada. Em qualquer situação da vida. Sempre chega mais cedo ao treino, começa o trabalho de prevenção às lesões, quando se machuca, cumpre o tratamento com perfeição. Ela é diferente", explica Floriano Almeida, técnico da judoca em Minas Gerais.
Quem a viu lutando em Toronto percebeu essa dedicação. Ela só perdeu uma vez no torneio, na semifinal, para a vice-campeã mundial Paula Pareto, da Argentina – em uma luta que a técnica da seleção brasileira, Rosicléia Campos, não concordou com a marcação dos árbitros. "Sai vencedora aqui, independentemente de ser ouro, prata ou bronze. Eu perdi, mas de uma atleta forte, que eu sabia que seria uma adversária difícil", comemora. "Cada passo que eu dei, cada gota de suor que caiu da minha testa no meio de um treino vale a pena com essa medalha. O ouro não veio, mas se eu continuar me esforçando, vou ser recompensada com esse ouro".
Além dela, o Brasil conquistou mais duas medalhas no judô no primeiro dia: Érika Miranda foi campeã dos meio-leves (52kg) e Felipe Kitadai acabou com a prata nos ligeiros (60kg). Neste domingo, lutam Charles Chibana (66kg), Alex Pombo (73kg) e Rafaela Silva (57kg). As lutas começam às 16h30 (de Brasília).