PAN 2015

• Quadro de Medalhas

Aconteceu durante as semifinais das provas de canoagem slalom. Enquanto os torcedores se concentravam nas corredeiras do rio Gull, que recebeu os atletas dessa modalidade no Pan de Toronto, um simpático urso preto revirava o lixo da lanchonete que atendia ao público na arena. O mais curioso desta cena é que o estranho ali não era o animal, mas sim os atletas e os espectadores.

Sim, porque o rio Gull e toda área em volta é o habitat do urso preto. Uma espécie característica da América do Norte, que pode alcançar até 2,20m de altura e pesar até 350 quilos. Eles têm por hábito dormir metade do ano. E na outra metade, estão soltos na floresta em busca de comida.

Em dias de muito calor, como os que se passaram nesse final de semana, é possível até ver os ursos mergulhando no rio Gull para se refrescarem. Por sorte dos atletas, o urso preto é dócil, está familiarizado com o convívio na civilização, e nenhum caiu n'água durante as provas.

"Estamos sabendo que por esta região aqui está cheio de urso, mas ainda não vi nenhum", comentou o paulista Pedro da Silva, o Pepe, prata no k1 (caiaque individual), no domingo, 19. "Não é a primeira vez que competimos em um lugar com essas características. O Mundial de slalom do ano passado [2014] também tinha essa fama", emendou o canoísta, referindo-se a Deep Creek, no estado americano de Maryland, na Costa Leste dos Estados Unidos.

A alimentação é à base de amoras e outras "berries", como se diz em inglês: morango, mirtilo, framboesa, oxicoco (cranberry)...E o que mais tiver ao alcance, como restos de comida em latas de lixo.

E isto é um tormento para os habitantes da região. Porque toda vez que um urso alcança um lixo, deixa uma tremenda sujeira, com sacos rasgados e dejetos espalhados por todo o canto. Mas esta espécie é tímida, é possível espantá-la com uma forte batida de pé no chão. Uma tática comum dos moradores é usar o cachorro como vigia do lixo. Os ursos, embora gigantescos, se assustam com os latidos e fogem.

Carne com sabor forte

Com a presença de canoístas e torcedores na margem do rio, os ursos pretos debandaram. Mas eles ainda estão em grande quantidade pela área. Para revolta de alguns moradores. "Antigamente, tínhamos autorização para caçá-los durante a primavera e depois, no outono. Agora, só pode na primavera. Sabe o que aconteceu? Eles se multiplicaram, estão em todos os lugares, são onipresentes", queixou-se, resignado, Glenn Springer, aposentado do ramo de T.I., morador da região,

Esta espécie de urso é caçada para fazer uso da pele muito mais do que para servir de alimento. "Há pessoas que comem a carne do urso preto, mas ela é muito forte, um sabor diferente. A maioria dos caçadores querem a pele para revender à indústria textil", explicou Springer.

Ele garantiu que na região também há predominância de alces, aqui chamados de "moose". Mas esses, disse Springer, estão em pontos mais profundos das florestas que margeiam as centenas de lagos de Ontário e dificilmente poderão ser vistos por atletas ou torcedores durante este Pan.

Longe do burburinho

A canoagem slalom não foi na cidade de Toronto. Aliás, foi bem longe dali. Precisamente 200 quilômetros ao norte da sede do Pan, no caminho para a capital do Canadá, Ottawa, ainda na província de Ontário. O rio Gull está numa região repleta de lagos, e nasce do lago Horseshoe, que há mais de 10 mil anos foi uma geleira.

Ele corre rápido por mais 50 quilômetros até desembocar no lago Balsam, a nordeste de Toronto. É por causa de sua forte correnteza que Gull foi escolhida como a sede do slalom, a despeito da distância do burburinho do Pan em Toronto. "Está um clima muito legal aqui, não nos sentimos excluídos dos Jogos, tenho me lembrado bastante daquele clima da Vila Olímpica de Londres, está bem parecido, mesmo distante da Vila Pan-Americana", comparou a matogrossense Ana Sátila, campeã no C1 (canoa individual) e prata no k1 (prova olímpica) no rio Gull, ambas no domingo.