Davi Albino, o ex-morador de rua que virou lutador medalhista no Pan
Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo
Todos os caminhos errados estavam no horizonte, mas a fome transformou Davi Albino em atleta de luta greco-romana. O envolvimento da mãe com as drogas levou a família a morar nas ruas de São Paulo quando ele era pequeno. Fisgado pelo estômago, passou a frequentar o centro olímpico por causa do lanche oferecido depois dos treinos. O garoto virou profissional e nesta quinta-feira (16) subiu ao pódio nos Jogos Pan-Americanos para receber a medalha de bronze.
O sorriso exibido pelo homem de 1,87 metro não foi consequência apenas por ter derrotado os adversários. Ele venceu a falta de perspectiva e, aos 29 anos, coleciona marcas na luta olímpica brasileira. Tornou-se o primeiro atleta a figurar na United World Wrestling e é cinco vezes campeão nacional. Mas acima de tudo, mudou de vida.
O lutador não lembra com exatidão, mas acredita que tinha quatro ou cinco anos quando a mãe perdeu a casa na zona sul de São Paulo por causa do vício em drogas. A praça junto a Igreja Nossa Senhora Aparecida virou casa para ela e os três filhos. Conhecidos abrigavam Davi para a criança não passar por aquela situação, mas o menino não queria ficar longe da mãe e fugia para encontrá-la.
A praça do bairro Moema que era casa também se tornou local de trabalho. O garoto se criou cuidando de carros. A cada manhã uma senhora que tinha por filosofia não dar o peixe, mas ensinar a pescar dava um bilhete de zona azul e uma caneta para o jovem fazer algum dinheiro.
Como sempre perambulava pelo local Davi também chamou a atenção de Joanilson Rodrigues, treinador de luta olímpica de um centro de esportes localizado nas imediações. Com a promessa do lanche o jovem conheceu e tomou gosto pelo esporte até virar profissional.
O próprio Davi credita ao treinador as transformações que conseguiu na vida. Com a figura paterna bastante ausente eu sua vida, atribui a Joanilson o papel de pai. Os conselhos permitiram que tivesse uma profissão e hoje tenha uma casa e um carro.
Mas não significa ignorar o passado. Tanto que o primeiro lugar para onde dirigiu depois de comprar o carro foi a praça que um dia serviu de moradia. Queria provar às pessoas que moram no local que uma vida nova é possível.