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30/07/2007 - 08h34

Aposta em pentatleta de laboratório rende ouro e vaga olímpica

Bruno Doro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

Em 2003, o pentatlo brasileiro embarcou em uma aventura ousada: usar atletas escolhidas a dedo e criadas "em laboratório" com o objetivo de representar o país na modalidade no Pan-Americano do Rio de Janeiro. Quatro anos depois, essa aventura resultou no ouro de Yane Marques, a primeira brasileira campeã pan-americana da modalidade e garantida nos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano que vem.

EFE
Yane Marques compete na prova de hipismo do pentatlo moderno do Pan
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No distante complexo esportivo de Deodoro, no subúrbio do Rio, Yane faturou a medalha de ouro, com a pontuação total de 5484, à frente da canadense Monica Pinette (5288) e da norte-americana Michelle Kelly (5252). A outra brasileira na prova, Larissa Lellys, terminou em oitavo lugar, com 4892 pontos.

Essa participação foi o resultado do experimento de 2003, que começou em Recife, em um evento aberto de biatlo (natação + corrida). Na época, o capitão Alexandre França procurava novos talentos e, entre as mais de 200 inscritas, encontrou as duas pernambucanas, com potencial para se tornarem atletas de ponta.

Esse potencial, porém, precisou ser lapidado. Yane, por exemplo, pratica o esporte há menos de quatro anos. "Tivemos que ensiná-la princípios básicos de esgrima, tiro e equitação", conta o técnico Alexandre França. "Mais do que isso, até a corrida teve de ser revista, porque ela não tinha porte de atleta".

Com Larissa, ex-número 1 do país, não foi muito diferente. "Nunca tinha atirado, nunca tinha nem visto uma disputa de esgrima e pra não dizer que nunca andei a cavalo, experimentei uma vez quando tinha 10 anos em uma fazenda", conta Larissa. "No começo, levei muitas quedas, coices, sempre acabava me machucando por não saber treinar. Mas uma hora peguei o jeito".

No Rio de Janeiro, as duas deram sinais da pouca experiência. Mesmo terminando com o ouro, Yane começou mal a competição, terminando apenas na quinta colocação do tiro, mas se recuperou nas provas seguintes- esgrima e natação - e abriu larga vantagem.

Mesmo sem ter ido bem na prova de hipismo, com a 10ª colocação entre 14 atletas, a brasileira manteve a liderança da competição e teve direito a largar no atletismo com 1min24s de vantagem em relação à segunda colocada, a canadense Monica Pinette.

De acordo com as regras do pentatlo moderno, os pontos conquistados nas quatro primeiras provas se transformam em minutos de vantagem para a largada dos 3000 m do atletismo. Com a folga, ela só teve que administrar na última prova para ficar com o ouro. Com o tempo de 11min43s01, Yane obteve apenas a 10ª colocação na corrida, posição que lhe foi suficiente para assegurar o primeiro lugar.

Larissa, por sua vez, na 14ª e última colocação no tiro e tentou se recuperar nas provas seguintes. A brasileira chegou a ficar na terceira colocação na natação, mas não conseguiu lutar por medalha.

No masculino, com pentatletas mais experientes, os resultados não foram expressivos. Veterano dos Jogos de Atenas, Daniel Santos, militar, terminou na oitava posição. O outro brasileiro, Wágner Romão, também militar, terminou na 11ª colocação.