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20/07/2007 - 07h32

Herói do judô não pisa no Haiti desde 95 e tentou virar-casaca

Bruno Doro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro

O judoca Joel Brutus é o responsável pela maior façanha esportiva da história haitiana em Pan-Americanos, mas não coloca os pés no país há 12 anos. Medalhista de prata entre os pesados no Pan de Santo Domingo, e bronze no Rio 2007, ele mora nos Estados Unidos e quase "virou a casaca".

DESERTORES OU "GATOS"?
Rodrigo Bertolotto/UOL
Jogadores da seleção do Haiti que disputam o torneio masculino de futebol
Metade da delegação do Haiti no Pan volta para o país caribenho se a seleção de futebol masculino não vencer a Jamaica (líder do grupo C) neste sábado e acontecer uma combinação de resultados que garanta sua passagem para as semifinais.

A certeza que eles retornarão, contudo, não é grande, afinal, na última viagem que esse mesmo time sub-20 fez 12 jogadores tentaram desertar na escala em Nova York (EUA), quando seguiriam para um torneio no Coréia do Sul, em junho. "Eles se perderam no aeroporto porque foram comprar alguma coisa e se desencontraram da gente", desconversa o técnico Jean Yves Labaze.
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"Eu moro nos EUA, tenho a cidadania americana e queria competir pelo país, mas o COI não permitiu. Eu teria de passar por uma quarentena de três anos ou então conseguir todas as liberações. Mas não consegui a do COI", diz Joel.

O problema foi a verba do programa "Solidariedade Olímpica", que o haitiano recebe, mas teria de devolver para trocar o país. "Eles queriam 50 mil dólares, mas eu já tinha gasto a maior parte, só tinha 10 mil para devolver".

Nascido no Haiti, Joel foi criado pelo pai, haitiano, e a mãe, norte-americana, entre os dois países. Quando fez 16 anos, em uma viagem para Nova York, foi abordado por técnicos que o queriam em suas equipes de futebol americano.

O pai, porém, não deixou que ele abandonasse o Haiti. "Era o meu sonho, mas não o do meu pai. Ele achava que se ficasse nos EUA, viraria um gangster. Então, me deixou no Haiti para que eu virasse homem".

Dois anos depois, o pai de Joel morreu e ele se mudou, definitivamente, para os EUA. "Mas aí já estava velho demais para começar no futebol", lamenta. O judô, foi então, a saída para Joel se destacar. Foi às Olimpíadas, ganhou medalhas Pan-Americanas, mas não consegue se identificar com a bandeira que representa.

"O Haiti é perigoso. Eu sei que uma medalha que eu conquisto pelo Haiti significa muito mais do que se eu conquistasse pelos EUA. Mas eu me sinto americano. O Haiti é violento, eu tento nem mesmo procurar notícias sobre o país. Minha família está toda nos EUA", explica.

Mesmo assim, ele se diz respeitado no Haiti. "Não importa se eu vivo lá ou não. Eu nasci no Haiti e falo o francês crioulo perfeitamente. Eles me consideram um deles e os meus feitos são importantes por lá", garante.

Distante do país desde 1995, a única vez em que ficou perto de retornar foi em 2001. A tentativa, porém, ficou no quase. "Ganhei uma competição importante para os países de língua francesa e o presidente me convidou para voltar. Mas não deu certo. Mudei de casa e de telefone e eles não me acharam mais". Voltar ao país? Ele não pensa nisso. "Eu não tenho porque voltar".