Marta colocou os pés na história do Maracanã. Literalmente. Depois de comandar o Brasil na vitoriosa campanha do futebol feminino no Pan do Rio, a meio-campista, eleita a melhor jogadora do mundo no ano passado, tornou-se a primeira mulher a gravar as suas pegadas no Hall da Fama do estádio.
O brilho de Marta, e das meninas do Brasil, ofuscou o fracasso da seleção masculina. Com um time sub-17 (poderia ter usado jogadores de até 20 anos), o país foi eliminado ainda na primeira fase após uma derrota diante do Equador.
O Maracanã viu os dois momentos distintos do Brasil. Primeiro a seleção masculina foi vaiada no estádio, e ainda deixou o campo aos gritos de "timinho". Depois, a equipe feminina foi aplaudida de pé, com uma torcida que cantou o hino nacional com muito orgulho na hora do pódio.
Os torneios de futebol começaram no estádio João Havelange, o Engenhão, construído para o Pan do Rio. As primeiras partidas aconteceram antes mesmo da cerimônia de abertura dos Jogos, para pouco público. Marta, por exemplo, só estreou no torneio no segundo jogo do Brasil.
Enquanto a seleção brasileira atuou apenas no Engenhão e no Maracanã, outros times tiveram que jogar em sedes menos badaladas. Os campos do CFZ e do Miécimo da Silva abrigaram alguns jogos, sempre para um público minguado.
Em campo, o Brasil começou o Pan dando a impressão de que faria uma dobradinha no pódio. Os meninos, comandados pelo corintiano Lulinha, venceram os dois primeiros jogos: 3 a 0 sobre Honduras e 2 a 0 diante da Costa Rica.
A equipe precisava apenas de um empate com o Equador para avançar às semifinais, mas perdeu por 4 a 2 e foi eliminada da competição. Os equatorianos chegaram até a final e ficaram com o título após derrotarem a Jamaica na decisão.
"Todo mundo pôs confiança em mim. Imaginavam ganhar um medalha de ouro pelos pés do Lulinha. Não deu, a vida continua", disse o jogador, que deixou o Maracanã chorando.
Enquanto a seleção masculina era eliminada, a feminina implodia cada uma das adversárias: Uruguai (4 a 0), Jamaica (5 a 0), Equador (10 a 0) e Canadá (7 a 0), na primeira fase, México (2 a 0), na semifinal, e finalmente Estados Unidos (5 a 0), na decisão.
Assim como Lulinha, Marta também chorou após a sua participação no Pan. "Já passei por várias situações na minha vida. Nas Olimpíadas com a medalha de prata, ou com o melhor do mundo. Mas hoje foi um dia muito especial. Um dia que o futebol feminino mostrou para o país que a gente tem condições de estar no lugar mais alto do pódio. A nossa esperança é que isso não pare por ai", disse, com a voz embargada.