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13/07/2007 - 09h33

Obcecado pelo padrão olímpico, Rio repete erros de Atenas

Bruno Doro
Enviado especial do UOL
No Rio de Janeiro*

A expressão "padrão olímpico" deveria ser registrada, com direitos de copyright exclusivos, pelos organizadores dos Jogos Pan-Americano do Rio de Janeiro. De tanto que a usam ao falar do Rio 2007, já se tornou bordão. De tanto que falam de Olimpíadas, acabam copiando edições passadas. E, algumas vezes, repetem erros anteriores.

PADRÃO OLÍMPICO
Arquivo Folha
Com arquitetura bastante parecida com o Estádio Olímpico de Atenas...
Arquivo Folha
...foi construído o Estádio Olímpico João Havelange, no Pan-Americano
Uma amostra são os Jogos de Atenas-2004, que parecem ser o grande elemento de inspiração para os cariocas, representados por suas duas obras-símbolo: o Estádio Olímpico de Atenas e o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão.

Os dois estádios têm arcos que sustentam a cobertura. Na obra grega, os dois arcos são maiores e mais imponentes. Na brasileira, o número de arcos é maior, com quatro. Não bastassem as semelhanças na aparência, nos atrasos as instalações também são iguais.

O Engenhão sofreu com projetos inadequados e atrasos nas obras. No entorno, desapropriações atrasaram as construções de bilheterias, por exemplo. Tudo, apesar da falta de retoques finais, ficou pronto a tempo para a competição. Em Atenas, o estádio quase ficou sem a cobertura de aço e vidro, mas foi completado pra ser o palco da abertura dos Jogos Olímpicos.

Os dois casos são apenas exemplos das semelhanças entre Atenas-2004 e o Rio-2007. Em nome do "padrão olímpico", o Pan do Rio foi marcado pelo gigantismo, pela construção de arenas modernas, pelo estouro de orçamento, pelos atrasos.

Na Grécia, foram construídas instalações modernas para quase todos os esportes. O orçamento pulou de 4,6 bilhões para mais de 9 bilhões de euros. As obras foram marcadas pela morosidade e, assim como no Rio, foram inauguradas a poucos dias da abertura.

Além disso, as semelhanças seguem nas empresas contratadas pelo comitê organizador para trabalhar nas mais diversas áreas. Alguns consultores contratados pelo Co-Rio também trabalharam para o Athoc (comitê organizador de Atenas-2004). A empresa de tecnologia e informática é mesma usada pelos gregos, assim como os responsáveis pela geração de TV.

Esportivamente, o Brasil também importou itens idênticos aos usados na Grécia, como as raias de remo e o piso do velódromo. Atletas já compararam o Parque Aquático Maria Lenk ao Centro Aquático de Atenas: "Parece muito, acho que por causa das arquibancadas dos dois lados", afirmou o nadador Tiago Pereira, após participar da inauguração do local. E o parque só não é mais parecido porque a cobertura do projeto original do Maria Lenk não ficou pronta a tempo.

Até mesmo a comunicação visual do Rio 2007 lembra Atenas-2004, com o azul predominante. Os uniformes dos voluntários são outra "cópia", quase fiel, aos gregos. Apesar das semelhanças, o secretário geral do Co-Rio, Carlos Roberto Osório, se apressa em negar o decalque.

"Nosso objetivo é fazer tudo em um padrão olímpico. O fato de alguém ver semelhanças com Atenas ou qualquer outra Olimpíada vai da visão pessoal de cada um", jura o dirigente.

Diferenças, aliás, também existem. Nos Jogos de Atenas, quase 90% dos esportes foram testados. Nos Jogos do Rio, menos de dez modalidades tiveram eventos-teste e algumas instalações, como o Velódromo, o Centro de Tiro ou o Centro de Hóquei na Grama, serão usados sem serem testados em competição previamente.

* Colaboraram Fernanda Brambilla, Flávio Florido, Giancarlo Giampietro, Lello Lopes e Rodrigo Bertolotto