A expressão "padrão olímpico" deveria ser registrada, com direitos de copyright exclusivos, pelos organizadores dos Jogos Pan-Americano do Rio de Janeiro. De tanto que a usam ao falar do Rio 2007, já se tornou bordão. De tanto que falam de Olimpíadas, acabam copiando edições passadas. E, algumas vezes, repetem erros anteriores.
PADRÃO OLÍMPICO |
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 Com arquitetura bastante parecida com o Estádio Olímpico de Atenas... |
 ...foi construído o Estádio Olímpico João Havelange, no Pan-Americano |
Uma amostra são os Jogos de Atenas-2004, que parecem ser o grande elemento de inspiração para os cariocas, representados por suas duas obras-símbolo: o Estádio Olímpico de Atenas e o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão.
Os dois estádios têm arcos que sustentam a cobertura. Na obra grega, os dois arcos são maiores e mais imponentes. Na brasileira, o número de arcos é maior, com quatro. Não bastassem as semelhanças na aparência, nos atrasos as instalações também são iguais.
O Engenhão sofreu com projetos inadequados e atrasos nas obras. No entorno, desapropriações atrasaram as construções de bilheterias, por exemplo. Tudo, apesar da falta de retoques finais, ficou pronto a tempo para a competição. Em Atenas, o estádio quase ficou sem a cobertura de aço e vidro, mas foi completado pra ser o palco da abertura dos Jogos Olímpicos.
Os dois casos são apenas exemplos das semelhanças entre Atenas-2004 e o Rio-2007. Em nome do "padrão olímpico", o Pan do Rio foi marcado pelo gigantismo, pela construção de arenas modernas, pelo estouro de orçamento, pelos atrasos.
Na Grécia, foram construídas instalações modernas para quase todos os esportes. O orçamento pulou de 4,6 bilhões para mais de 9 bilhões de euros. As obras foram marcadas pela morosidade e, assim como no Rio, foram inauguradas a poucos dias da abertura.
Além disso, as semelhanças seguem nas empresas contratadas pelo comitê organizador para trabalhar nas mais diversas áreas. Alguns consultores contratados pelo Co-Rio também trabalharam para o Athoc (comitê organizador de Atenas-2004). A empresa de tecnologia e informática é mesma usada pelos gregos, assim como os responsáveis pela geração de TV.
Esportivamente, o Brasil também importou itens idênticos aos usados na Grécia, como as raias de remo e o piso do velódromo. Atletas já compararam o Parque Aquático Maria Lenk ao Centro Aquático de Atenas: "Parece muito, acho que por causa das arquibancadas dos dois lados", afirmou o nadador Tiago Pereira, após participar da inauguração do local. E o parque só não é mais parecido porque a cobertura do projeto original do Maria Lenk não ficou pronta a tempo.
Até mesmo a comunicação visual do Rio 2007 lembra Atenas-2004, com o azul predominante. Os uniformes dos voluntários são outra "cópia", quase fiel, aos gregos. Apesar das semelhanças, o secretário geral do Co-Rio, Carlos Roberto Osório, se apressa em negar o decalque.
"Nosso objetivo é fazer tudo em um padrão olímpico. O fato de alguém ver semelhanças com Atenas ou qualquer outra Olimpíada vai da visão pessoal de cada um", jura o dirigente.
Diferenças, aliás, também existem. Nos Jogos de Atenas, quase 90% dos esportes foram testados. Nos Jogos do Rio, menos de dez modalidades tiveram eventos-teste e algumas instalações, como o Velódromo, o Centro de Tiro ou o Centro de Hóquei na Grama, serão usados sem serem testados em competição previamente.
* Colaboraram Fernanda Brambilla, Flávio Florido, Giancarlo Giampietro, Lello Lopes e Rodrigo Bertolotto