Americano sem braços treina para ser o melhor do mundo no tiro com arco
Felipe Pereira
Do UOL, em Toronto (CAN)
Matt Stutzman tem uma meta ousada, ser o melhor do mundo no que escolheu fazer, tiro com arco. O desejo toma contornos de inalcançável quando se sabe que o atleta americano nasceu sem os dois braços e não usa prótese. E para quem não acredita ser possível ele avisa: "sou muito bom no que faço".
A confiança se baseia nas marcas atingidas. Matt está no Livro dos Recordes como o arqueiro a acertar uma flecha na maior distância no mundo – 210 metros. Também participa regularmente de competições com pessoas com os dois braços e não faz feio. Ele acertou 120 tiros seguidos em um campeonato nos Estados Unidos ano passado, chegando a final do torneio.
Nas Paralímpiadas de Londres ficou com a medalha de prata, mesma posição obtida no Parapan de Toronto. Além das conquistas esportivas, Matt tem marcas pessoais como manter uma família composta de mulher e três filhos. Em relação abens materiais, tem uma casa e um carro que ele mesmo dirige usando os pés para virar o volante, dar sinal e etc. Tudo é pago com o esporte e o atleta já fez propaganda para multinacionais como a Kellogg's.
O começo da história de Matt nas competições remete a 2010, ano em que estava desempregado. Ele precisava por comida na mesa e apostou no arco e flecha para caçar. Descobriu que levava jeito e procurou ajuda para ficar ainda melhor e poder pôr mais carne no freezer. A evolução foi tão rápida que se tornou um atleta.
Mas antes da mágica acontecer foi preciso dar um jeito de empunhar o arco. Como tudo que faz na vida, ele pretendia usar os pés para desempenhar as funções das mãos. A única coisa a descobrir era como emprega-los, resposta que imaginou encontrar numa busca no Google. Mas nenhum resultado apareceu, ninguém fazia isto no mundo. Hora de apelar para o You Tube.
Matt viu vídeos dos melhores arqueiros do mundo e adaptou a técnica para os pés. Se o campeão segurava uma parte do equipamento com a mão esquerda ele usava o pé esquerdo. Desta maneira em um mês criou sua própria maneira de competir.
Para esticar a corda do arco passou a usar uma haste de metal presa às costas. Ele estica as pernas e depois é só mirar. A decisão de ser o melhor do mundo tem a intenção de transmitir uma mensagem.
"Não tenho braços e estou num esporte que usa os braços. Quero que as pessoas vejam que é possível."
A explicação para capacidade de improvisação e adaptação está ligada ao começo da vida de Matt. Quando tinha 13 meses o menino foi adotado por uma família que morava numa fazenda. Os novos pais deixaram o garoto crescer solto para fazer tudo que conseguisse. Com um ano e meio ele aprender a andar e a comer sozinho.
Ainda na infância descobriu como subir em árvores, pescar, caçar e tudo mais. Novas habilidades vieram com o passar do tempo como dirigir e fazer a própria barba. Estas atividades são possíveis graças a grande força e elasticidade nas pernas, fruto de muito treinamento.
O modo que foi criado e que encara a vida faz Matt não se sentir um deficiente. Ele acredita que pode ser o melhor do mundo e está treinando para isso. Até adotou um apelido, o arqueiro inspirador.