Ouro no Parapan, garoto de 19 anos tem genética para ser atleta da década
Felipe Pereira
Do UOL, em Toronto (CAN)
Vencedor dos 100 metros rasos do Parapan na noite de segunda-feira, Petrúcio Ferreira dos Santos é considerado a maior promessa do esporte paraolímpico brasileiro. Com apenas 19 anos ele já foi dono do recorde mundial da prova e é o homem mais rápido do planeta nos 200 metros rasos.
A razão para resultados tão expressivos é uma genética moldada para velocidade explica Ciro Winckler, coordenador técnico de Atletismo do Comitê Paralímpico Brasileiro. Ele conta que a partir da largada Petrúcio consegue se manter ganhando velocidade até a faixa entre 50 e 60 metros do percurso.
Este é o mesmo nível dos atletas que disputam a Olimpíada. No atletismo paraolímpico os competidores mantém a aceleração na faixa entre 40 e 50 metros. Por ser tão jovem, o brasileiro ainda tem espaço para evoluir.
Outra vantagem genética de Petrúcio é o tempo de reação, muito mais rápido que o normal. A combinação destes dois fatores é essencial na prova mais rápida e nobre do atletismo. Em Toronto, o percurso foi vencido em 10,77 segundos e a tendência é que o brasileiro melhore o tempo.
Desta vez é a fisiologia que justifica a afirmação. Os músculos de um velocista podem ser encarados como o motor. Petrúcio ainda está mais para um garoto franzino do que um dos fortões dos 100 metros. A melhora da parte física vai se refletir nos resultados.
Outro ponto importante é o percentual de gordura que hoje está em 12%. Se os músculos são o motor, a gordura é o porta-malas cheio atrapalhando o desempenho. Com a evolução nos treinamentos ele deve baixar para 8%. Não é possível antecipar quanto ficará mais rápido, mas certamente os tempos cairão.
No estágio atual Petrúcio não tem os níveis ideais de músculos e gordura corporal porque está competindo há apenas dois anos. Ele se criou em São José do Brejo da Cruz, sertão da Paraíba, e não comeu nem se exercitou como um atleta até os 17 anos. Foi descoberto somente com esta idade quando participou de uma etapa das Paralimpíadas Escolares em 2013 na cidade de João Pessoa.
Foi inscrito porque o técnico do atletismo do colégio percebeu que era rápido jogando bola. Mandou muito bem, chamando atenção do CPB. Convidado para participar de uma prova em São Paulo, apavorou mesmo usando um tênis emprestado. Daí para frente os treinadores trabalham para lapidar o talento do garoto.
Existe muita esperança de medalha para Rio 2016, mas o atleta vai atingir o auge em 2020, ano da Paralimpíada de Tóquio. Estará com a estrutura corporal moldada e mais experiente. Resultado do trabalho que é feito hoje e envolve todo cuidado de um atleta de alto rendimento.
Petrúcio tem preparação física, acompanhamento de fisiologista, nutricionista e vai para pista dia sim, dia também. Os tempos começaram a cair e ele bateu os recordes mundiais dos 200 metros rasos e dos 100 metros rasos – este último recentemente superado.
Mesmo tratado como a maior esperança nacional, ele é um garoto bem tranquilo. Justifica que encara as provas como um treinamento em que deseja apenas ir melhor deixando as coisas acontecerem naturalmente.
"As pessoas perguntam se não me sinto pressionado de onde sai, interior da Paraíba, sertão mesmo. Por ter vida sofrida... Não, deixo rolar", resume.
Talvez tenha mesmo razão. Se for para ficar imaginando coisas, poderia pensar onde chegaria se na infância não imitasse o pai e colocasse cana na máquina de moer. Criança, não soube a hora de soltar e perdeu parte do braço esquerdo. Mas isto é coisa do passado e é para frente que se corre.