Campeão olímpico brasileiro vai correr de guia no Parapan
Felipe Pereira
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Getty Images
Joaquim Cruz tem uma medalha de ouro e outra de prata em Olimpíadas e vai ser guia de atleta americana no Parapan
Maior corredor da história do Brasil com um ouro e uma prata em Jogos Olímpicos, Joaquim Cruz vai ser guia da americana Ivone Mosquera-Schmidt, que é cega, na prova dos 800 e 1500 metros no Parapan de Toronto. A parceria não estava programada, mas os dois guias de meio fundo e fundo dos Estados Unidos tiveram problemas com o passaporte e ficaram sem visto. Convocado, o brasileiro teve dois meses para se preparar.
Em forma, Joaquim Cruz conta que parou de competir, mas não de correr. Explica que é bom de garfo e manteve atividades físicas para poder comer o que gosta e na quantidade que desejar. Mas não significa que gostaria de estar na prova. Mesmo que a parceria tenha sucesso, Joaquim Cruz garante que não planeja repetir a dobradinha no Rio de Janeiro ano que vem.
Justifica que é um homem de 52 anos e a passagem do tempo tem suas consequências para o corpo. Competitivo, perdeu 5,5 quilos e sofreu duas lesões nos dois meses de preparação para Toronto.
Joaquim Cruz vive nos Estados Unidos desde setembro de 1981. Mudou por causa da carreira e encontrou no país a estrutura necessária para conquistar o ouro nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984 e a prata em Seul quatro anos depois. Aposentado, passou a ajudar o esporte americano e a partir de 2005 está envolvido com o movimento paralímpico.
Hoje o brasileiro é técnico chefe de atletismo do Centro Olímpico de Chula Vista, que fica perto San Diego, Califórnia. Foi com este status que abordou uma corredora que participou de três provas no mundial paralípico de 2013, em Lyon França. Ivone ficou se perguntando quem era aquele cara que estava dando conselhos e ao chegar no hotel foi no Google descobrir. A resposta impressionou a americana.
A corredora afirma que sente muita confiança em Joaquim Cruz porque a primeira coisa que ouviu dele foi que os sonhos de seus atletas passam a ser seus sonhos. A construção desta relação fez Ivone mudar para Califórnia ano passado, mas o primeiros contatos ocorreram em um período bem complicado na vida dela.
A atleta se sentiu mal e a consulta médica constatou um câncer - o terceira na vida de Ivone. Operada rapidamente, avisou o técnico que estaria na pista assim que recebesse alta do hospital. Cumpriu o prometido. Joaquim Cruz lembra que foi um período difícil de treinamento porque ela fazia quimioterapia e a cada dia o trabalho precisava ser adaptado às condições físicas.
Passados quatro meses, os resultados dos exames foram positivos e ambos puderam fazer um trabalho completo que será colocado a prova a partir deste sábado no Parapan. Com muitos quilômetros em competições, Joaquim Cruz admite que está com aquele frio na barriga de outros tempos ao voltar às pistas. Até o medo do fracasso sentiu e ele teme sentir alguma lesão durante a prova acabando com as chances de Ivone. Mas avisa que afasta estes pensamentos da cabeça e confia nas corridas diárias que nunca deixou de fazer para obter bons resultados.