Feridos na guerra contra Farc saem do trauma e agora são atletas no Parapan

Felipe Pereira

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • Cortersía Inspire WebTV

    O vôlei da Colômbia tem três paratletas que são ex-militares feridos em confrontos contra Farc

    O vôlei da Colômbia tem três paratletas que são ex-militares feridos em confrontos contra Farc

Antes de virar um atleta de vôlei sentado, Yesit Palacios Bejarano era especialista em bombas do Exército da Colômbia. A última missão do cabo de 24 anos foi limpar um terreno na selva, descoberto quando um guerrilheiro das Farc (Forças Armadas Revolucionários da Colômbia) morreu ao pisar numa mina armada pelo próprio grupo. O militar não conseguiu terminar o serviço, foi vítima de outra mina do grupo, que luta contra o governo do país. 

Ele lembra do corpo jogado um metro acima do solo e o zunido que sentiu no ouvido por causa da explosão. Quando conseguiu discernir o que acontecera, percebeu que o pé esquerdo se resumia ao calcanhar. A canela tinha ferimentos até perto do joelho. Mas o que os olhos não enxergavam era ainda mais grave. A energia da bomba foi direcionada até a rótula e os ligamentos romperam, fazendo a perna gangrenar. Nem oito horas de cirurgia recuperaram os tecidos. A amputação ocorreu três dias depois, em 28 de abril de 2014.

Giovani Manegas, 35 anos, é jogador do rúgbi paraolímpico. A carreira começou quando pilotava umas das motos que ia à frente do comboio destacado pelo governo colombiano para escoltar o ônibus com 20 guerrilheiros da Farc presos até o aeroporto de Bogotá, capital do país. O grupo seria extraditado para os Estados Unidos. Numa tentativa de resgaste de cinema, uma caminhonete acertou em cheio o veículo do funcionário da prisão de segurança máxima. Uma lesão na coluna cervical deixou-o sem os movimentos nas pernas. 

Os dois são exemplos de colombianos que viraram atletas do Parapan de Toronto, que começa nesta sexta-feira, dia 7, na guerra do governo contra as Farc.

O ataque ao comboio que mudou a vida de Giovani ocorre em 18 de dezembro de 2002. A data era cheia de expectativas porque em cinco dias ele faria aniversário e em uma semana seria Natal. Os presentes estavam comprados. Nenhum deles foi desembrulhado porque a alta do hospital veio somente no ano seguinte e numa cadeira de rodas.

O confronto com os homens da Farc também causou perda de movimentos na mão direita de Giovani. Foram quatro anos de trabalho de reabilitação para desenvolver capacidades como escrever com a esquerda. Independência maior veio apenas depois de praticar esporte. Como consequência do rúgbi aprendeu a tomar banho, se vestir e ir para cama sem ajuda.

Além de questões físicas, o psicológico pode sofrer. Yesit trabalhava com explosivos, atividade para lá de perigosa, e sabia dos riscos corridos. Por causa disso, tinha a mente preparada para um problema desta gravidade. O cabo comemora a recuperação sem problemas de alcoolismo ou depressão. 

Com Victor Leal, 29 anos, a história foi diferente. Guerrilheiros da Farc atiraram uma granada quando estava em missão em Toledo Norte Santander. O suboficial estava no meio do grupo e se viu sem espaço para correr.

A explosão levou a amputação da perna esquerda e ao desespero. Ele conta que chorava muito e certa vez usou a agulha do soro para tentar cortar o pulso. Preferia morrer a ser deficiente. A mudança de atitude ocorreu porque se comparou a outros soldados em situação pior. Um deles mexia apenas os olhos e os lábios, mas bastava para se comunicar com a mãe. Desta maneira dizia que queria viver e respondia às declarações de amor dela com o sorriso que conseguia dar. Exemplo que fez Victor superar seu drama.

Hoje o assunto preferido dele é alcançar a vaga para disputar as Paraolimpíadas do Rio no próximo ano. Caso consiga, ele, Yesit mais o ex-soldado Jhonatan Holguín serão trio de ex-militares a defender a Colômbia no vôlei sentado.

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