Estrangeiros naturalizados rendem medalhas, vaga inédita e doping no Pan

Daniel Brito

Do UOL, em Toronto (CAN)

O Pan que se encerrou no último domingo serviu como primeira grande competição para uma experiência recente no esporte brasileiro: a naturalização de estrangeiros. Disseminada especialmente em modalidades em que o país não tem tradição, a iniciativa rendeu medalhas, uma vaga inédita e até um caso de doping em Toronto.

A iniciativa tem como objetivo final a Rio 2016, quando o Brasil terá vaga em todos os esportes na condição de país-sede. Para não passar vergonha em modalidades pouco praticadas, os cartolas apelaram a estrangeiros com mais prática, seduzidos de diversas formas.

A prática não é uma exclusividade no Brasil, diga-se. No caminho para os Jogos de 2012, o Reino Unido adotou o mesmo expediente e criou os "britânicos de plástico", expressão usada pela mídia local para caracterizar os "gringos" que defenderam a terra da Rainha em Londres.

A primeira experiência do Brasil neste sentido rendeu bons frutos. Das modalidades que apelaram a estrangeiros, só o levantamento de peso não teve resultados positivos, já que o americano Patrick Mendes foi pego no doping por uso de esteroides.

Nos demais esportes, no entanto, a medida foi um sucesso. O rúgbi feminino levou bronze, o pólo aquático masculino a prata, a esgrima três bronzes e os homens do hóquei sobre a grama conseguiram a vaga olímpica com a quarta colocação no Pan. Não é pouca coisa.

Essa lista só considera os atletas naturalizados estrategicamente pelos cartolas. Não considera, por exemplo, esportistas que nasceram fora do país por um ou outro motivo e que construíram a vida e a carreira no Brasil.

É o caso, por exemplo, da goleira Tess Oliveira, do polo aquático, e da cavaleira Sarah Wadell, ambas nascidas na França. A carioquíssima Rosângela Santos, uma das melhores velocistas do atletismo brasileiro, é de Washington, nos Estados Unidos, embora tenha passado sua vida toda no Rio de Janeiro. Caso idêntico ao da velejadora Patrícia Freitas, igualmente da capital dos Estados Unidos, mas criada na cidade fluminense.

Veja, abaixo, como se saíram os "gringos" no Pan:

Pólo aquático
O caso do pólo aquático foi o mais bem-sucedido. Esta foi a modalidade em que o Brasil conseguiu reunir uma grande quantidade de expatriados. A equipe comandada pelo técnico croata Ratko Rudic, tetracampeão olímpico, tinha em sua base um croata, um espanhol, um cubano e um italiano. Deixou Toronto com um inédito segundo lugar, ao perder a final para os Estados Unidos.

Hóquei na grama
A maior parte dos gringos está em modalidades pouco populares no Brasil. É o caso do hóquei na grama. Defenderam o time nacional em Toronto os irmãos holandeses Yuri van Der Heijden e Patrick van Der Heijden, além do inglês Chris MchPherson, e o pernambucano Stephane Smith, criado na Holanda, e paulistano Paul Duncker, que cresceu na Holanda.

Todos esses foram enxertados no elenco de hóquei que fez história no Pan de Toronto ao terminar na quarta colocação e, assim, classificar-se para os Jogos Olímpicos pela primeira vez. Em termos de estatísticas, os estrangeiros não foram decisivos em gols, até porque esta seleção anotou apenas quatro em quatro jogos.

Só que eles emprestaram a experiência ao elenco do técnico Cláudio Rocha para garantir a vitória nos pênaltis, após empate por 1 a 1, nas quartas de final, assim como no heroico empate sem gols com o Canadá, na semifinal. O time, no entanto, acabou eliminado nos pênaltis pelos anfitriões.

Rúgbi
O rúgbi viveu situações distintas. A delegação contava com três estrangeiros com a camisa brasileira. Os ingleses Matt Gardner e Juliano Fiori compuseram o time que terminou o Pan na sexta posição, à frente apenas de Guiana e México.

No feminino, a fluminense Isadora Cerullo nasceu em Niterói, mas cresceu e aprendeu a jogar nos Estados Unidos. E seu nível técnico contribuiu para que o Brasil conquistasse uma medalha de bronze, atrás apenas de Estados Unidos e Canadá.

Levantamento de peso
O caso mais preocupante foi do levantamento de peso. A Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP) naturalizou o americano Patrick Mendes e o Pan foi sua primeira aparição internacional pelo time do COB.

Ele terminou na quarta colocação na categoria até 105 kg, mas no dia seguinte à sua apresentação foi divulgado resultado de exame antidoping em que flagrou-se a substância dehidroclorometiltestosterona, um esteróide proibido pela Wada (Agência Mundial Antidoping).

O resultado em Toronto foi anulado e Mendes suspenso preventivamente até o julgamento. Essa foi a segunda sanção na carreira do atleta de 25 anos. Em 2012 ele já havia testado positivo e fora punido com dois anos de suspensão. Ele passou a representar o Brasil ao fim desse gancho, em 2014.

Esgrima
A esgrima também foi reforçada. Nathalie Mullhouse é italiana de Milão, compôs a seleção do país europeu que foi campeã mundial por equipes na espada em 2009. Ela disputou seu primeiro Pan pelo Brasil em Toronto e ganhou duas medalhas de bronze: uma no individual e outra na disputa por equipes, em que ela foi a principal pontuadora da equipe verde-amarela.

No masculino, outro gringo que se destacou foi Ghislain Perrier, que nasceu em Fortaleza, mas foi adotado por franceses com um ano e sequer fala português. Naturalizado brasileiro, ele ganhou o bronze no florete masculino. 

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