Cara do Pan, saltadora enfrentou medo de altura e traumas para virar atleta

Daniel Brito e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Toronto (CAN)

Nem bem começara o Pan e a saltadora Ingrid de Oliveira virou a cara da competição por conta de uma foto de maiô na plataforma. Comentários que a traçavam como uma menina oportunista em busca de exposição se acumularam na internet. Quem falava não sabia era a quantidade de desafios que a atleta enfrentara para chegar até ali.

Lá se vão dez anos desde o início da trajetória da atleta nos saltos ocorrida meio por acaso. Carioca, moradora de São Gonçalo, Ingrid era ginasta em um clube em Niterói e no Fluminense quando criança, mas não teve especial destaque. Largou porque já estava "velha demais para o esporte".
 
Foi quando sua irmã começou a praticar saltos ornamentais no clube das Laranjeiras. "Eu e a minha irmã vivíamos brigando. Toda hora era uma implicando com a outra. Quando ela foi fazer saltos, eu fui acompanhar só de pirraça. Mas aí eu gostei e acabei ficando", relembrou. Não foi de uma hora para outra. De início, Ingrid apenas observava a irmã. Motivo: tinha medo de altura. A técnica de saltos Andréa Boheme a convenceu a tentar pouco a pouco. Começou com saltos no trampolim de um metro para ir superando o trauma.
 
E ainda tinha outros desafios. "Ela tinha que tomar três ônibus para chegar no clube quando era pequena. Quando chegava, não tinha dinheiro para pagar o almoço então a gente dava uma ajuda. Depois, com resultados, o clube passou a pagar a dar apoio", contou a treinadora.
 
Seu esforço tinha uma razão: identificava um talento incomum no 1,60m da menina. Por isso estava ao seu lado quando morreu a mãe da saltadora, pessoa mais próxima que tinha na família. O pai da atleta mora no interior do Rio, e ela se afastou da irmã.
 
O tema fácil não é fácil para a saltadora. Quando questionada sobre saudades de casa, no Pan, respondeu, "Bom, minha mãe já é falecida, meu pai mora no interior do Estado do Rio e minha irmã não mora comigo", disse, encerrando a conversa.
 
Há dois anos, Ingrid começou a conseguir resultados: medalhas nos Jogos Sul-Americanos de jovens, e uma 5ª colocação na Olimpíada da Juventude. Com isso, veio o direito ao bolsa-atleta e uma renda que lhe permitiu alugar um apartamento só para ela na Tijuca, bem mais perto do Fluminense, que fica na zona sul. Passou a namorar um atleta de saltos italiano, língua que aprendeu.
 
Não é que o sofrimento tenha ido embora. Está lá no choro ao errar um salto e cair de costas na prova individual da plataforma de 10 m no Pan. Só que, em geral, vem sucedido por um sorriso da conquista de uma prata inesperada no salto sincronizado já que batera medalhistas olímpicas juntamente com Giovanna Pedrosa.
 
O que se explica, talvez, pela atitude de Ingrid de continuar a se desafiar a fazer o que não conseguira antes. Um exemplo é o salto duplo mortal carpado que errara no Pan com as cotas na água. "Vou fazer no Mundial lá em Kazan (está em disputa). E quero tentar outro ainda mais difícil para o Rio-2016", contou. Como na plataforma de criança, ela aumenta a altura dos seus planos a cada tentativa.
 
Mundial de Esportes Aquáticos
 
Depois da prata no Pan, Ingrid já viajou para a Rússia, para o Mundial de Esportes Aquáticos. Nesta segunda-feira, disputando prova de duplas da plataforma de 10 m, ela terminou na penúltima colocação. Ingrid esteve ao lado de Giovana Pedroso e, ao fim da prova, somou um total de 256.32 pontos. 

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