Atletismo do Brasil deixa Toronto com menor número de ouros em 44 anos
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Danilo Verpa/Folhapress
Juliana dos Santos beija a medalha de ouro conquista nos 5.000m feminino
Quando Juliana Gomes dos Santos disparou para vencer os 5.000 metros na primeira final que o Brasil disputou no atletismo dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, tudo parecia lindo para a modalidade. A mulher do bicampeão da Maratona de Nova York, Marilson Gomes, não era favorita e, ainda assim, chegou em primeiro lugar.
O problema é o que veio a seguir. Pela primeira vez desde o Pan de Cáli, em 1971, o Brasil fechou o atletismo com menos de duas medalhas de ouro. A única foi de Juliana. Há 44 anos, os brasileiros não foram ao lugar mais alto do pódio na modalidade – o mesmo já tinha acontecido em 63 e 67 (nos Pans de 51, 55 e 59 o país teve um campeão pan-americano em cada).
Essa diferença tem uma série de explicações. Até os anos 90, os países do Caribe exportavam talentos e os melhores atletas defendiam as nações que adotavam. O Canadá, por exemplo. Donovan Bailey, campeão olímpico de 1996, nasceu na Jamaica. Nenhum atleta do time do revezamento 4x100m que venceu os Jogos de Atlanta pelo Canadá, aliás, nasceu no país. Isso quer dizer que o número de concorrentes por uma medalha era menor.
Além disso, o momento do Pan canadense favoreceu a participação dos melhores do mundo. Com o Mundial de Pequim marcado para agosto, grande parte da elite da modalidade das Américas estava no Canadá. "Muita gente usou o Pan como pré-Mundial. Tem gente que deixou de competir em uma etapa da Diamond League, para estar aqui. Perderam dinheiro", justifica Rosângela Santos, campeã pan-americana há quatro que igualou o melhor tempo de sua carreira no Canadá e, ainda assim, ficou em quarto lugar nos 100m.
Em número de pódios (foram 13 em Toronto) as conquistas também estão abaixo de patamares passados. O último Pan em que o país não levou ao menos 16 medalhas foi o Pan de Mar del Plata, em 1995. Na ocasião, foram 12, mas com cinco ouros (com Zequinha Barbosa, Joaquim Cruz, Carmen de Oliveira, Eronilde de Araújo e Wander Moura).
Uma delas, porém, gerou comemoração: no revezamento 4x100m, o Brasil de Bruno Lins, Aldemir Gomes, Vitor Hugo e Gustavo dos Santos ficou com o prata – à frente da Jamaica, que trouxe uma equipe forte, e de Antígua e Barbuda, que tinha quebrado o recorde pan-americano nas semifinais (o Canadá venceu na pista, mas acabou eliminado após protesto. Um atleta invadiu a raia). Bruno correu quase 300 metros para comemorar, caiu chorando na pista, emocionado. "Por tudo o que aconteceu, é um resultado incrível. Ainda mais depois de mudarmos a ordem na hora da prova", conta Bruno, que fez a curva dos 300m para passar o bastão para Aldemir fechar a prova. "Eu estava rápido e o Bruno não entregava o bastão. Achei que não ia dar. Mas quando peguei, sabia que tínhamos chance. No final, quando vi só dois na minha frente, era só comemorar", completa Aldemir.
Mesmo com desempenhos históricos como esse (o quarto lugar do revezamento 4x100m feminino, sem Ana Claudia Lemos, contundida, também merece elogios), o desempenho fez com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) afirmasse que o atletismo ficou abaixo do esperado em Toronto. "O atletismo está em transição. Mudou o diretor técnico. Temos vários técnicos estrangeiros. O trabalho está sendo feito. Vamos analisar o que deu certo e o que deu errado", analisou Marcus Vinicius Freire, superintendente técnico do COB. "Há uma mudança de caminho para ser acertada com eles quando chegarmos no Brasil."
O diagnóstico é o mesmo da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). "Concordamos com o COB, ficamos abaixo da meta", afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da entidade. "Nossa meta era alcançar 15 a 20 medalhas aqui em Toronto. O COB tinha um prognóstico ainda maior para nós. Mas houve provas que ficamos em quarto colocado, outras que tivemos azar, como no salto com vara masculino".