Capitão da seleção de polo sobre assédio: "Certeza que ele não fez nada"
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Satiro Sodré/SSPress
Felipe Perrone, capitão da seleção brasileira de polo aquático
Felipe Perrone foi o responsável por transmitir a notícia de que Thyê Mattos estava sendo acusado de agressão sexual. Capitão da seleção brasileira de polo aquático masculino, ele conta que o goleiro reserva e amigo não acreditou na notícia.
"Primeiro, ele achou que era brincadeira. Depois, desabou. Porque, a partir disso, entram outras coisas no meio. Afeta família e amigos. E foi algo muito pesado. Para um cara que não merece isso. Eu só espero que não o julguem antes. Ele é um atleta exemplar e estaremos sempre do lado dele", disse Perrone, principal nome da modalidade no país, em entrevista após o treino para a imprensa brasileira, já na Rússia.
Falando em nome da seleção brasileira, o jogador disse que confia na inocência do companheiro. "O Thyê é um atleta exemplar, que sempre se sacrificou pela seleção e pelo esporte. Não vamos entrar em detalhes porque o caso, agora, é uma questão jurídica. Mas temos certeza absoluta da inocência dele, de que não teve assédio", afirmou.
"O sonho de todo atleta é defender seu país. Ele estava vivendo isso. E, de repente, se ver envolvido de uma maneira como essa, foi duro demais. Ele foi considerado culpado sem ser ouvido, sem ser consultado. E a polícia ainda fala que pode haver outros casos. Como? Ele estava com a gente, treinando e jogando todos os dias. É uma história que nos deixou perplexo".
Neste sábado (25), a seleção brasileira treinou em Kazam, na Rússia. A partir de segunda-feira, eles jogam o Mundial de Desportos Aquáticos – a estreia é contra a China. A viagem do jogador para o Brasil foi uma decisão do técnico Ratko Rudic, técnico croata dono de quatro medalhas de ouro olímpicas. O goleiro não tinha condições emocionais para defender o país no torneio. "Só que podemos fazer agora é nos concentrar no Mundial e tentar fazer com isso não afete nossa performance".
A polícia de Toronto anunciou que o brasileiro era alvo de uma investigação de agressão sexual na sexta-feira, em uma entrevista coletiva em seu quartel-general, no centro da cidade. A foto do jogador foi mostrada para a imprensa antes mesmo que o goleiro ou representantes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) ou CBDA fossem avisados.
Segundo Joanna Beavin-Desjardins, inspetora-chefe do escritório de crimes sexuais da polícia local, é uma prática padrão para casos do tipo, para incentivar denúncias de outros ataques. A policial afirmou que o atleta "ficou duas semanas em Toronto e podem haver outras vítimas". A reportagem apurou, porém, que a única folga dos atletas fora do ambiente oficial do COB (a Vila Pan-Americana ou a Casa Brasil, a menos de um quilômetro da Vila) foi justamente após o fim da competição.
A polícia informou que a acusação foi feita por uma moradora de Toronto de 22 anos, residente na área central da cidade e sem ligação com os Jogos Pan-Americanos. Os dois teriam se conhecido em um bar no dia 15 (quarta-feira em que o Brasil jogou a final do polo aquático do Pan-Americano de Toronto) e ido para o apartamento da vítima, ao lado de duas pessoas. A outra mulher era amiga da vítima. O outro homem, um membro da delegação brasileira de polo aquático que não está sendo investigado.
A vítima teria ido para o quarto sozinha, já na manhã do dia 16. O brasileiro entrou no cômodo. Foi nesse momento que aconteceu o ataque. Thyê admitiu a membros da CBDA que foi ao apartamento da vítima e que manteve relações sexuais, mas com consentimento da mulher. A polícia canadense informou ao UOL Esporte que essa versão pode envolver "o entendimento dele de consentimento", por isso ele segue procurado.
Com o mandado de prisão emitido, o goleiro enfrenta problemas para viajar. Ele pode ser preso em qualquer país que tenha um tratado de extradição com o Canadá. Rússia e Brasil, porém, não tem acordos desse tipo.