Atletismo admite ter ficado abaixo da meta e aponta falta de treinadores
Bruno Doro e Daniel Brito
Do UOL, em Toronto (CAN)
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AP Photo/Mark Humphrey
O responsável pela montagem da equipe que representa o Brasil no atletismo do Pan de Toronto é objetivo quanto ao desempenho no evento. "Concordamos com o COB, ficamos abaixo da meta", afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).
"Nossa meta era alcançar 15 a 20 medalhas aqui em Toronto. O COB tinha um prognóstico ainda maior para nós. Mas houve provas que ficamos em quarto colocado, outras que tivemos azar, como no salto com vara masculino", explicou o dirigente.
Restam apenas dez medalhas a serem disputadas no atletismo desta edição do Pan. Passados seis dias de provas, o Brasil amealhou 11 pódios, um dos quais no ponto mais alto, com Juliana dos Santos, nos 5000m.
Na coletiva de imprensa em que fez um balanço da participação brasileira no Canadá, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) especificou que houve um problema no atletismo. "O atletismo está em transição. Mudou o diretor técnico. Temos vários técnicos estrangeiros. O trabalho está sendo feito. Vamos analisar o que deu certo e o que deu errado", analisou Marcus Vinicius Freire, superintendente técnico do COB. "Há uma mudança de caminho para ser acertada com eles quando chegarmos no Brasil."
Antonio Carlos, o diretor em questão, pede calma. "Após a competição é importante revisar todo o processo. Mas sabemos que não tem renovação no atletismo. Precisamos reciclar o nosso corpo de treinadores, temos excelente treinadores, mas são poucos. O que a gente precisa é de um nível maior e em maior quantidade. É um processo que vai levar alguns anos", disse o dirigente da CBAt.
Nos últimos 20 anos, esta pode ser a pior participação nacional em Pan no atletismo. Em Mar del Plata-1995, a delegação brasileira voltou para casa com apenas 12 medalhas, das quais cinco foram de ouro. "Este é a edição mais forte de um Pan dos últimos anos. Quando você vem para um Pan no Canadá e nos EUA, a realidade é essa daqui. Os EUA estão com os melhores em algumas provas, e o Canadá está com o time A. São atletas que vão fazer a final do Mundial em Pequim, em agosto, pode ter certeza. Essa é a realidade, não há o que esconder", justificou Antônio Carlos.
Indignação dos atletas
Quando soube que houve críticas por parte do COB quanto ao desempenho dos brasileiros do atletismo, a velocista Rosângela Santos, que integrará o time do revezamento 4x100m neste sábado, irritou-se, fechou na cara e rebateu com veemência. "Nós não estamos decepcionando. Atletismo, como qualquer esporte, é imprevisto. Não dá para querer subestimar as outras equipes. Todo mundo treina. Não dá para acreditar que os brasileiros vão ganhar todas as medalhas. Todo mundo está batalhando. E os outros países têm muito mais estrutura do que a gente. E, mesmo assim, a gente está fazendo um bom trabalho para o Brasil", disse, nervosa, encerrando a entrevista.
Único medalhista brasileiro na sexta-feira, Julio Cesar de Oliveira diz, em outros termos, algo semelhante ao que Rosângela defendeu. "Lógico que dá para melhorar, sempre podemos evoluir, mas não tem ninguém aqui nesse time fazendo corpo mole, está todo mundo querendo fazer o melhor para o Brasil sempre", explicou.
Já Juliana dos Santos, dona do, até o momento, ouro solitário do Brasil no atletismo em Toronto não esconde a mágoa. "Estou feliz pela minha medalha, mas triste pelos meus amigos, todos aqui se prepararam muito, esta é a competição mais importante para a gente [atletismo]. Eu sei que tem ainda o Mundial e no ano que vem terá a Olimpíada, mas a gente tem que viver isso daqui. Mas esse Pan está muito forte, não que exista um Pan que seja mais fraco que o outro, mas todo mundo que está ganhando ouro em Toronto está melhorando os resultados pessoais", opinou.