Mari Paraíba chegou à seleção na quadra. Mas foi a praia que a levou ao Pan
Fabio Aleixo e Leandro Carneiro
Do UOL, em Toronto (CAN) e São Paulo
Mari Paraíba abandonou as quadras há três anos. Depois de muita badalação e um ensaio para a revista Playboy, ela se aposentou. Tempos depois, retornou ao vôlei, mas dessa vez na praia. E foi justamente a areia que fez com que a jogadora chegasse ao auge de sua carreira, na seleção feminina. Pelo menos, essa é a opinião do técnico José Roberto Guimarães que a escalou no lugar de Jaqueline no jogo contra os EUA, o mais difícil do Pan até agora, devido à lesão da titular.
"A Mari equilibrou o time no passe e isso foi ponto altíssimo (contra os Estados Unidos). Fez as outras jogarem, entendeu bem o espírito. Ela tem uma habilidade diferenciada depois do vôlei de praia, consegue colocar bolas em ângulos que nenhuma outra consegue. Técnicas que jogadoras aprendem que ajudam muito. Ela está mais madura, passou por várias coisas e aprendeu. O que me chama a atenção na Mari é a personalidade dela", disse o treinador.
Esse crescimento no período em que ficou na praia é reconhecido pela própria jogadora. "A passagem na praia foi importante para eu melhorar meus golpes na quadra. Eu não sou uma jogadora tão alta, então eu preciso aprender a trabalhar mais a bola. E acho que um ponto muito importante foi no meu amadurecimento como atleta, de aguentar pressão. Na praia, é só você e sua parceira. Você tem de saber sair de situações difíceis. Porque se você não souber, vão te massacrar o jogo inteiro. Então, você tem de ter paciência, respirar e voltar para o jogo", afirmou ao UOL Esporte.
A rota feita por Mari já foi traçado por grandes nomes do vôlei brasileiro. Leila, que ganhou duas medalhas olímpicas, foi para a praia e voltou para a quadra antes de terminar sua carreira novamente nas areias, e também aponta melhoras no jogo da ponteira.
"A praia acrescenta muito porque na praia é jogo muito individual, você e sua parceira, muitas vezes quando jogo é muito em você, você é pressionado mentalmente, você é muito treinado mentalmente para suportar pressão. Fisicamente acrescenta muito, você lida com fatores externos. Areia, sol, tem de ter resistência incrível, areia puxa muito fisicamente. Acho que a praia ajudou a Mari a amadurecer. Vi um ou dois jogos dela, percebo que ela está feliz, ela está curtindo, ter vivido situações ali na areia que ela nunca viveu na quadra. Está madura, aquele momento na praia ajudou nela nesse sentido", disse Leila.
As opiniões de Leila e Zé Roberto são compartilhadas por Rodrigão, campeão olímpico em 2004 e dono de outras duas medalhas de prata na quadra antes de ir para a disputa na praia.
"Acho que ela teve uma evolução grande, não estava tendo tanto espaço e buscou a praia. Ela melhorou muito e agora tem a chance. Fico feliz por ter chegado onde muitas atletas querem chegar, realmente tem o reconhecimento pelo esforço", disse o ex-jogador.
Ele chegou a disputar algumas etapas do Circuito Brasileiro de vôlei de praia antes de retornar à quadra. O campeão olímpico também destacou a importância que a praia traz para tornar um jogador de vôlei completo.
"Você melhora muito. Toca muito mais na bola, melhora todos seus fundamentos, já é um crescimento grande, Você tem de lapidar todos os fundamentos, eu era central, não levantava muitas bolas, não passava. Para jogar na praia, tem de ser completo, ser bom em todos fundamentos. Quando você volta, ajuda muito, sabe o que precisa fazer, tem uma consciência melhor", finalizou.
Mari Paraíba voltou às quadras em 2013 no time de Barueri. A última temporada ela disputou pelo Minas/Camponesa e foi convocada pela primeira vez para a seleção para a disputa do Grand Prix e Jogos Pan-Americanos deste ano.
Na praia, ela fez dupla com Fernanda Berti e com Natasha Valente. Ela teve as duas como parceiras no período de um ano que jogou na praia.