Governo quase dobra seu peso entre atletas do Pan e cola imagem a medalhas
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Jeff Swinger-USA TODAY Sports
Yane Marques foi ouro no pentatlo moderno e está no programa bolsa-pódio
A um ano da Olimpíada do Rio de Janeiro, o governo federal quase dobrou sua influência na delegação brasileira de atletas no Pan de Toronto em relação a Guadalajara-2011. Faz pagamentos direitos a cerca de 70 % dos esportistas por meio de bolsa-atleta e bolsa-pódio, enquanto 38% eram agraciados há quatro anos. Como maior financiador, o governo federal tem feito questão de associar sua imagem às conquistas dos atletas, dando uma importância ao Pan maior até do que o COB (Comitê Olímpico do Brasil).
Levantamento do UOL Esporte mostra que são 418 atletas pagos diretamente pelo governo federal em Toronto, sendo 84 deles por meio do programa pódio que lhes fornece entre R$ 5 mil e R$ 15 mil e o restante pelo bolsa-atleta com valores até R$ 3 mil. Essa expansão foi planejada após a Olimpíada de Londres-2012 com o lançamento do plano Brasil-medalha. No total, o Ministério do Esporte prega ter investido R$ 500 milhões no esporte olímpico neste ciclo do Pan. Esse valor é até maior se consideramos investimento de estatais.
Para fazer propaganda de tamanho investimento e colher certos frutos da empreitada, o ministro do Esporte George Hilton foi a Toronto, visitou atletas na Vila do Pan posando com os mais conhecidos para fotos. Até protagonizou cena bizarra ao subir no pódio para entregar a medalha de um judoca quando o protocolo indica que só medalhistas podem ascender ao local de premiação.
O Ministério do Esporte abastece uma página com as histórias dos medalhistas, ressaltando o financiamento que recebem do governo. Em um documento sobre seu investimento, o ministério classificou o Pan como "estratégica" na campanha para a Olimpíada-2016.
Na visão do COB, a competição é relevante, mas não havia sequer uma preocupação muito grande em ficar no top 3, o que o país conseguirá sem fazer força. O nadador César Cielo, e equipes de vôlei e basquete nem vieram com todos seus titulares. Há Mundiais mais fortes que vão testar as qualidades nacionais de forma mais precisa neste ano.
Em compensação, o Ministério do Esporte terá chance de exibir que a maior parte das medalhas foi conquistada por atletas patrocinados por verba federal. Dos 84 esportistas do bolsa-pódio, 46 já conquistaram premiações até agora –e falta alguns deles competirem. E isso não inclui aqueles que tem bolsa-atletas, os mais numerosos. Para efeito de comparação, o governo festejava ter bancado 53 medalhas em 2011.
Em um momento ruim da presidente Dilma Rousseff, o desempenho dos atletas brasileiros no Pan aparece como uma boa notícia. Resta saber o que vão significar os resultados de Toronto em uma Olimpíada que tem nível bem mais alto.