Ser ouro no Pan e cuidar de filho em casa: dificuldades de uma atleta-mãe
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Danilo Verpa/Folhapress
Juliana dos Santos chora no pódio depois da conquista nos 5.000m feminino
"Em casa, é sempre uma competição. Quem ganha é a mãe ou é a atleta?"
Essa frase define a vida de Juliana dos Santos, a primeira brasileira a subir ao pódio no atletismo dos Jogos Pan-Americanos de Toronto – foi campeã dos 5.000m. Campeã do atletismo, ela voltou a competir em alto nível no ano passado. O motivo? O filho Miguel, de quatro anos.
Entre a gestação e o período em que se dedicou integralmente ao bebê, foram três anos de carreira em pausa. E a trajetória parecia ser promissora. No Pan-Americano do Rio de Janeiro, com 24 anos, ela foi ouro nos 1500m. "Foi uma opção. Quando fiquei grávida, resolvi que seria uma mãezona. Eu e o Marílson resolvemos que seria importante estarmos mais próximos do Miguel".
Miguel teve a mãe ao seu lado, diariamente, por um ano e meio. Depois disso, passou a acompanha-la aos treinos, já que os avós não conseguiam ajudar muito. Os país de Marílson ainda moram em Ceilândia, no Distrito Federal. Os de Juliana, em Cubatão. "Eles fazem mágica com o Miguel. Principalmente com os pais longe", admite Adauto Domingues, técnico da dupla.
Essa mágica, porém, é fácil de explicar. Quando os dois atletas treinam juntos, Miguel vai, também para o clube. Chega até a correr ao lado de um deles, nos aquecimentos. Quem está por lá ajuda a cuidar do menino. Quando é hora de viajar, porém, há um revezamento. Para o Pan de Toronto, por exemplo, Marílson ficou em casa. "Foi a primeira vez em oito anos que deixei duas pessoas para trás. Antes, era só o Marílson. Agora, são dois. E você sente muito. Eu voltei há pouco tempo a sentir essa sensação de ser atleta de alto nível, de nível internacional. E chega à Vila, sentir esse clima, é muito especial. Mas, hoje sou mãe. E você sabe como é mãe, né? Está sempre preocupada com os outros".
O problema, para Juliana, é que o ouro do Pan pode render ainda mais aventuras longe de Miguel. A prova em Toronto foi a apenas a segunda de sua vida nos 5.000m. Antes da gravidez, ela sempre se considerou uma especialista nos 1.500m. Além disso, ela vai testar a sorte também nos 3.000 com obstáculos. Se conseguir a vaga Olímpica em uma delas, o que acontecerá em casa, para cuidar do filho? "Aí nós chamamos os avós. É por uma boa causa."