Entre tropeços e escorregões, as mancadas que custaram medalhas no Pan
Bruno Doro e Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Rob Schumacher/USA Today Sports
Depois de tropeçar na largada, brasileiro Vitor dos Santos fica para trás e não se classifica nos 100m
Vitor Hugo dos Santos alinhou para a sua eliminatória dos 100m rasos. Aos 19 anos, era a prova mais importante de sua jovem carreira. Mas o tiro soou, ele deixou o bloco de partida e foi dar o primeiro passo. Pronto: o pé esquerdo bateu no direito, um tropeção. E o fim de sua participação (pelo menos em eventos individuais) nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. "Foi uma falha. Algo que nunca tinha acontecido antes. Não foi nervosismo, não. Eu errei".
Foi uma cena inusitada para as pistas de atletismo, mas corriqueira na vida cotidiana. Quem nunca tropeçou no meio da rua, deu um ou dois passos e conseguiu se manter de pé? Uma mancada que acontece com qualquer um. Uma pena para Vitor que todos viram ao vivo, pela TV, no meio de um Pan.
Ele, porém, não está sozinho no grupo dos que deram uma mancada no Canadá. Alguns brasileiros deram mancadas durante os Jogos. Mas todos se levantaram e seguiram competindo. A maioria voltou com uma medalha - Vitor Hugo também tem a chance, já que irá correr no revezamento 4x100m brasileiro.
Olhe a ginástica rítmica do Brasil, por exemplo. Em uma apresentação, o conjunto deixou cair um bastão. "Quando a gente deixa escorregar o bastão, tentamos disfarçar, para os juízes não verem. Como são cinco, às vezes, eles não percebem", diz Morgana Gmach, da equipe verde-amarela. Azar dela que, em Toronto, quem dava as notas viu. Foi o bastante para que a medalha de ouro fosse para os EUA – mas a prata, essa sim, ficou com as atletas verde-amarelas.
Nota zero nos saltos ornamentais
Nos saltos ornamentais, uma mancada ganhou fama nacional. Em seu quarto salto na plataforma de 10 metros, Ingrid de Oliveira errou e caiu de costas na água. Ela tentava um salto novo, que nunca tinha executado em competições antes. Já sabia que a execução poderia ser ruim. Só fez o salto porque era uma eliminatória e ela já estava garantida na final. O problema foi sua entrada na água: não conseguiu completar um duplo mortal e meio carpado. O salto lhe rendeu uma nota zero e a sétima posição na classificação. A atleta chorou na ocasião, mas se recuperou no Pan: na prova de plataforma sincronizada, ela e Giovanna Pedroso foram prata.
Pedido de revisão tira medalha na ginástica rítmica
Dias depois de Ingrid, foi a vez de Angélica Kvieczynski, da ginástica rítmica, cometer a sua mancada. E o pior: ela não cometeu erro nenhum durante sua apresentação do individual geral. O problema é que a ginasta ficou insatisfeita com sua nota do arco. Por isso, pediu uma revisão dos juízes, algo comum na modalidade. Os juízes concordaram que a nota inicial não estava certa. O problema é que eles acharam a apresentação da brasileira inferior. Resultado: abaixaram em 0,375 sua nota. Assim, ela caiu da segunda para a quarta posição, perdendo a medalha. Dias, depois, porém, Angélica se recuperou: conquistou duas medalhas de bronze, uma na fita, outra no arco.
Um escorregão inesperado no judô
Já o judoca Felipe Kitadai não chegou a perder a medalha: sua mancada aconteceu na final dos ligeiros (60kg). Mas foi surpreendente. Medalhista olímpico e atual campeão pan-americano, ele entrou na luta contra o equatoriano Lenin Preciado confiante. Mas bastou uma desatenção para que o ouro quase certo virasse prata: a dez segundos de luta, o brasileiro fez o movimento para reverter uma tentativa de golpe do rival. Mas escorregou. Caiu com as costas no chão, ippon para o Equador. "Acontece, é do esporte. Até lá, não tinha sido ameaçado em nenhum momento", justifica o judoca.
Virada na natação vale ouro. Para outro brasileiro
E como mancadas atingem todos, até as maiores estrelas do Pan, Thiago Pereira entra, também, na lista. Justo na prova em que conquistou sua única medalha olímpica, os 400m medley, ele acabou eliminado por ter pressa demais em um movimento. Na virada do nado peito para o livre, os juízes perceberam que o brasileiro não bateu com as duas mãos ao mesmo tempo na borda. Como o toque deve ser simultâneo, ele foi eliminado. Houve recurso, discussão, mas os organizadores mantiveram a punição e ele ficou sem o pódio – quem se tornou campeão pan-americano foi outro brasileiro, Brandonn Pierry.
Thiago, porém, acabou aceitando a mancada: "A gente aprende muito, sempre. Até em lances assim. Essa eliminação mostrou que não era só eu que estava competindo. Mas muita gente. Recebi muitas mensagens de apoio e carinho. Acabou ajudando". Depois disso, Thiago se tornou o atleta que mais vezes subiu ao pódio na história dos Jogos Pan-Americanos. Mostrando que é possível, sim, se levantar depois de um tropeço.