Ensaio sensual não bombou, e o softbol agora quer atrair "brasileiras"
José Ricardo Leite
Do UOL, em Toronto (CAN)
-
UOL
Vivian Morimoto (esq.) e Simone Suftsugu, pioneiras do softbol no Pan
O esporte já não tem muita tradição no Brasil . Para piorar, não faz mais parte do programa dos Jogos Olímpicos. Não está fácil a vida da seleção brasileira feminina de softbol nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, ainda mais após duas derrotas consecutivas. Mas elas não param de lutar.
Todas as 15 jogadoras têm outras atividades profissionais ou estudam. Participar dos Jogos muitas vezes depende do patrão, já que precisam combinar de tirar férias juntas para se juntar às grandes competições. É a primeira vez que o Brasil disputa o torneio obtendo uma classificação em campo, ao ficar entre as seis primeiras num torneio em 2013. Depois, dá-lhe esforço pra ir pro Canadá. "Uma das jogadoras procurou um fornecedor de toalhas esportivas, fizemos logo do Pan e vendemos pra arrecadar dinheiro. Teve algumas doações de empresas que investiram na gente. E também o dinheiro do COB, que nos ajudou. Deu certo", falou Vivian Morimoto, uma das remanescentes de dois Pans atrás.
Sem disputar a edição de 2011, em Guadalajara, a última vez que o softbol brasileiro havia participado do Pan foi na edição de 2007, no Rio. Lá, para tentar atrair holofotes do público no torneio e aumentar a visibilidade do esporte em anos futuros, algumas atletas fizeram um ensaio sensual para compensar a falta de verbas. Sete jogadores fizeram um catálogo de fotos com só com camisetas e as pernas à mostra. Teve repercussão, patrocinador, interesse de empresários e as fotos viraram até um catálogo e guia para a imprensa. Mas, depois disso, segundo duas das remanescentes daquele torneio, pouco mudou.
"Fizemos isso pra captar mesmo, chamar a atenção. Mas chamou de uma maneira errada, não sei. O pessoal só olhou pra beleza e não o que era o esporte, sabe? Não teve uma continuidade", falou Vivian.
Sua companheira Simone Suftsugu, que também jogou em 2007 e fez o ensaio na época, disse que só o primeiro passo foi dado, de apresentar o esporte. Mas faltou continuar o interesse. Agora, querem ir por outro caminho, não via beleza. "No softbol são as vitórias mesmo que vão atrair o interesse. A gente quer que o Brasil saiba do esporte. Só paramos nesse primeiro (ato de marketing)", disse.
Cabelos presos, uniformes largos, boné, luvas e óculos. Elas sabem que pelo caminho de explorar a beleza feminina é mais difícil. "No softbol não tem muito disso, o nosso uniforme não é muito feminino. A gente cobre bastante o corpo, não é como outros com uniforme mais agarrado", explicou Vivian.
O primeiro passo é tentar fugir do esteriótipo de que o esporte é apenas para orientais. Dizem que precisam da força de mulheres brasileiras das mais diversas ascendências. Das 15 que jogam o Pan, apenas duas não são descendentes de orientais. "Nós queremos trazer meninas de outra cultura. Porque pela estrutura do corpo mesmo das brasileiras. Elas são mais altas, mais fortes e queremos fazer um mix de outras culturas. Está aberto pra todo mundo, não é porque o esporte tem origens (asiáticas) que só nós jogamos", falou Vivian. "Está melhorando aos poucos. No beisebol tem melhorado. No softbol tem um pouquinho a mais, mas precisam os também da força das brasileiras", endossou Simone.
No Pan, até agora, são dois jogos e duas derrotas, para Estados Unidos e Canadá, situação muito difícil para conseguir a classificação para as semifinais. Mas virão jogos considerados mais equilibrados, contra República Dominicana, Porto Rico e Cuba.
O softbol feminino fez parte dos Jogos Olímpicos de 1996 a 2008 e agora não existe mais. Tem regras semelhantes ao beisebol, embora haja diferenças, e foi tanto na Olimpíada como no Pan a versão feminina do beisebol (embora a edição de Toronto seja a pioneira a ter beisebol feminino).