No tiro, a diferença entre um atleta militar e um civil é de 100km

Bruno Doro

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • WARREN TODA/EFE

    Cássio Cesar Rippel vitória na carabina deitado 50m

    Cássio Cesar Rippel vitória na carabina deitado 50m

O atirador Stênio Yamamoto é dentista. Entre uma consulta e outra, ele consegue treinar duas horas por dia. O tempo, porém, não é suficiente para que ele apareça, diariamente, no estande de tiro de 50 metros mais próximo. Ele mora em São Paulo. E o local de treinamento em questão é em Santos. Cerca de 100 km. E essa distância representa, atualmente, a diferença entre um atleta civil e um militar no tiro esportivo brasileiro.

O dentista era o único atleta das provas de bala da seleção brasileira de tiro esportivo que não era militar. "Sou o único que sobrou", diz Stênio. Parte dos atletas faz parte do projeto esportivo das Forças Armadas, que recruta atletas para defender o país em competições militares. Mas a maioria era militar de carreira.

Júlio Almeida é tenente-coronel aviador da Aeronáutica. Foi ouro na pistola 50 metros, a mesma em que Stênio acabou em sexto lugar. "Hoje, pela situação conjuntural do país, principalmente com o desarmamento, os militares são a grande maioria da equipe de tiro. As Forças Armadas nos dão apoio para poder treinar. Isso acontece com os cinco atletas da seleção que estão aqui. Quatro pegaram medalha. As Forças Armadas nos dão tempo. Quem trabalha e tira um pouquinho da folga para treinar, nunca vai chegar no nível de quem treina o tempo todo", analisa Almeida.

É só olhar para as condições de treinamento que cada um tem. Júlio ficou os primeiros seis meses sem um estande de 50 metros no Rio de Janeiro. Mas nas próximas semanas, será inaugurado um na Escola Naval, no centro do Rio. Em Deodoro, também existe o Centro Nacional de Tiro, que está em reforma.

Ouro na prova de carabina deitada, o major do Exército Cássio Rippel tem uma equipe multidisciplinar a sua disposição em Campinas, onde mora. Treina em um estande com os 50 metros que a prova exige, com alvos eletrônicos. E, como faz parte do projeto esportivo nacional, seu trabalho é a preparação para as competições.

"O legado que estamos deixando foi mostrar como é possível criar um projeto vencedor. Hoje, tenho apoio do Ministério do Esporte, do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e da Confederação de Tiro, além do Exército. Consegui montar um plano de treinamento muito bem pensado e que está sendo muito bem executado. Tenho uma equipe multidisciplinar de cinco pessoas no meu apoio. Isso tudo faz com que a gente mostre qual o modelo a ser seguido", explica Rippel.

O mesmo acontece com Emerson Duarte, tenente-coronel do Exército, prata na prova de tiro rápido, e com Bruno Lion Heck, quinto na carabina deitado 50m. Felipe Wu, o quarto militar a subir ao pódio, foi ouro na pistola de ar 25m. Ele, porém, não é militar de carreira como Duarte, Rippel, Almeida ou Heck. E, para não se mudar da casa da família, prefere treinar em seu quintal, improvisando na distância.

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