Enfim chegou a hora de o Brasil ganhar mais ouros que Cuba no Pan?

José Ricardo Leite e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Toronto

  • William Lucas/inovafoto

Após mais da metade do Pan, o Brasil ocupa a terceira posição no quadro de medalhas e conseguiu se descolar de Cuba, de quem tradicionalmente fica atrás, com vantagem de oito ouros a mais (30 a 22). Se mantiver esse quadro, será a primeira vez depois de 48 anos que o país terá mais títulos que a ilha caribenha na competição. A questão é que se iniciam agora esportes em que os cubanos acumulam muitos pódios, como boxe e atletismo.

Desde que Fidel Castro tomou o poder em Cuba, no final da década de 50, o esporte teve uma evolução notável no país, que agora vive uma ditadura de mais de 50 anos. Só perdeu para os brasileiros em número de ouros em 1963 e 1967 quando o novo sistema educacional ainda se desenvolvia na ilha. Os Jogos de Winnipeg, em 67, no Canadá, foram os últimos em que os brasileiros tiveram mais títulos que os cubanos.
 
Depois, foi só lavada. Cuba superou o Brasil em nove Pans seja em títulos, seja em total de pódios, critério adotado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil). Isso apesar de ser um país de 11 milhões de habitantes contra 204 milhões de brasileiros. Em geral, tem delegações menores e bem mais vencedoras.
 
Mas o esporte cubano tem sofrido nos últimos 15 anos com deserções de atletas e queda de investimento. No mesmo período, o Brasil teve o crescimento do dinheiro para o esporte de alto rendimento desde a criação da Lei Agnelo Piva em 2003. Agora, vive o momento de maior quantidade de recursos às vésperas das Olimpíadas Rio-2016. Resultado: nos dois últimos Pans, o Brasil superou Cuba em número de medalhas, mas continuou atrás em ouros. Agora, tem oito de frente, enquanto os cubanos estão em quinto atrás da Colômbia.
 
"Eles têm cultura esportiva que não é fácil de construir. Tem vários treinadores formados em todos os esportes. Nós formamos professores de educação física, mas não treinadores", explicou o superintendente do COB, Marcus Vinícius Freire. "Nosso investimento tem 12 anos. Ainda não temos tantos treinadores."
 
De fato, a instituição Cubadeportes lista 7 mil treinadores cubanos espalhados pelo mundo para ajudar com equipes estrangeiras em convênios feitos com o governo. E qual a perspectiva de uma vitória brasileira em ouros? Para responder essa pergunta, é preciso lembrar que começam nesta semana o atletismo e o boxe. No último Pan, os cubanos bateram os brasileiros em 18 a 10 em ouros no atletismo, o que já acabaria com a vantagem. No boxe, apesar das deserções, os atletas da ilha têm favoritismo em boa parte das categorias.
 
O Brasil, no entanto, tem grandes chances de medalhas de ouro em esportes coletivos como handebol, futebol, vôlei de praia e vôlei. Em total de medalhas, é quase certa a vitória nacional já que acumula 32 pódios a mais. E há uma possibilidade mais forte do que nunca de bater os cubanos em títulos. Resta esperar esta semana.
 
O chefe da delegação brasileira em Toronto, Bernard Rajzman, disse que o Brasil não tem como objetivo enfim passar Cuba ou qualquer outra nação no Pan de 2015. Reiterou que mais importante do que ganhar medalhas de ouro, é estar entre os tops de um esporte. E disse que ao contrário de outras nações, sem citar nomes, o Brasil não busca foco em esportes que distribuem muitas medalhas no quadro. 
 
"Não temos adversário a bater. Nosso conceito é superar a melhor performance. Se for (bater) Cuba...o Canadá em casa vai ter obviamente a melhor performance da história deles. Cuba tem mais medalhas em esportes individuais. Nossa meta não é ficar à frente ou atrás de alguém. O que queremos dizer é que estar em uma final de atletismo, semifinal, final", falou.
 
"Tem países que adotam algumas estratégias. Tem país com só uma modalidade e fica entre os 20 melhores do mundo. No meu conceito, um país potência olímpica tem que ter 15 ou 20 esportes que disputam medalha. Temos no Brasil cultura de esporte coletiva, e os individuais dão muito mais medalhas. O que buscamos é harmonia e equilíbrio pra não só promover alegrias e desenvolver mais, pois com ídolos e gerações surgem mais novos talentos do que pensar em esportes que pensam em muitas medalhas. Respeitamos, não sou contra países que adotam foco em esportes que dão muita medalha, mas não é nosso caso", prosseguiu.
 
Para Cuba, segredo é esporte ser "direito do povo"
 
Como um país com população 17 vezes menor, extensão territorial mais de 70 vezes menor e economia muito mais lenta conseguiu obter resultados mais expressivos do que o Brasil ao longo das últimas décadas? A explicação, segundo o Comitê Olímpico Cubano, é o fácil acesso que as pessoas podem ter para praticar esportes, com centros municipais sem que seja necessário pagar um clube, por exemplo. Eles citam também o forte apoio que o governo dá.
 
"Acho que o segredo é o apoio do governo ao esporte. O sistema esportivo faz parte da importância como saúde, recreação, bem estar. O esporte tem um apoio muito forte e há sistema de competência desde a escola, em nível de municípios, e proporciona uma massificação. Em cuba há uma série de instalações locais livres. O esporte é livre. Dizemos que o esporte é um direito do povo, gratuito para todos.  Qualquer um não paga", disse ao UOL Esporte Ruperto Herrera, secretário geral do Comitê Olímpico Cubano e representante da delegação no Canadá.
 
O Comitê Olímpico cubano não entende que o país esteja em um processo de desaceleração no esporte e diz que os resultados obtidos são mais do que possível de acordo com o que podem (não divulga cifras oficiais de investimento). "Cuba está muito bem. Nos últimos Jogos Centro-Americanos fomos primeiro lugar. E nos mantemos sempre entre os 15 melhores em Jogos Olímpicos, é um ótimo resultado ser um pais pequeno com pouco desenvolvimento econômico", falou Ruperto.
 
Os cubanos também rejeitam a tese de que haja investimento em esportes baratos e que dão muitas medalhas e que outros que são mais caros não seja possível desenvolver um atleta pelos recursos locais, como é o caso da natação, em que historicamente o país sempre teve resultados internacionais pífios. "É uma pergunta que muitos fazem pra isso. Acho que é só um problema técnico que as pessoas tem que começar mais cedo. As possibilidades que temos na juventude é que todos consigam competir em todos os esportes."

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