Basquete feminino sai do Pan sem medalha e com futuro incerto para o Rio
Antoine Morel e Fábio Aleixo
Do UOL, em Toronto (CAN)
Não foi o mesmo desastre das semifinais contra o Canadá, mas os erros continuaram pesando para a seleção feminina de basquete, que perdeu de Cuba por 66 a 62 e ficou sem a medalha de bronze. Além da ausência no pódio, a passagem das jogadoras pelo Pan de Toronto ainda deixa o futuro da equipe em xeque, com a participação nas Olimpíadas do Rio seriamente ameaçada.
Foi um desempenho bem melhor que o do último domingo, quando o Canadá atropelou a seleção verde-amarela com um 91 a 63. Cuba, que fez jogo duro com os EUA na outra semifinal, esteve longe de dominar a partida, como se poderia imaginar. Só que não foi o suficiente para o Brasil ser ao menos medalha de bronze.
A derrota para Cuba deixou o Brasil sem medalha pela primeira vez desde o Pan de 1999, em Winnipeg, também no Canadá. Desde então, a seleção havia conquistado bronzes em 2003 e 2011 e uma prata em 2007. Mais que a ausência no pódio, o desempenho em Toronto ligou o sinal vermelho para 2016. O Brasil teria vaga assegurada nos Jogos do Rio não fosse a pendência financeira com a Fiba (Federação Internacional de Basquete). A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) deve cerca de US$ 800 mil à entidade e ainda não resolveu a situação. Se continuar em débito, o país terá de disputar a vaga na quadra.
Os dois caminhos preocupam. Nos bastidores, falta grana à entidade brasileira, que tem um déficit anual de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões. Os cartolas fizeram uma nova proposta de pagamento parcelado à Fiba, que quer o dinheiro à vista e decidirá sobre o assunto em uma reunião no começo de agosto.
O martelo será batido dias antes do início do pré-olímpico das Américas, que será disputado a partir de 9 de agosto em Edmonton, também no Canadá. Nesta disputa, o Brasil só garantiria vaga nos Jogos se fosse à final. Se falhar, a equipe só terá uma segunda chance na repescagem mundial caso fica na terceira ou na quarta colocação.
O próprio técnico do time, Luiz Augusto Zanon, já disse que - se depender da vaga na quadra - o risco é grande. Sem poder contar com as quatro jogadoras que atuam na WNBA (Damiris, Clarissa, Nádia e Érika não foram liberadas pelos seus times), ele diz que prefere investir na renovação. "Vou fazer uma nova convocação para o Pré-olímpico. Pode ter muita surpresa. Gente muito mais nova. Se eu vou lá para vaga ou não, é outra história. Eu iria [com toda a força] se tivesse todas as condições do mundo. Eu teria igualdade. Sem as 4 , a nossa realidade é essa. A gente tem que ser fiel ao projeto. Eu teria a chande de ganhar a vaga se eu tivesse todo mundo. Eu assumo esse risco", relatou o treinador.
Contra a parede, o Brasil só reagiria sob a influência de Gilmara, que saiu do banco, reuniu as companheiras após uma falta para Cuba e liderou a reação. A seleção cresceu de produção e encostou no marcador, alternando a liderança com Cuba no terceiro quarto. Não foi o suficiente. No último quarto, o Brasil demorou a engrenar, viu a armadora Casanova fazer um estrago e repetiu os velhos erros. Pressa na definição de jogadas, arremessos desequilibrados e muitos turnovers (foram 17 ao longo do jogo) acabaram decidindo o jogo para Cuba, apesar de uma disputa bem apertada nos segundos finais.
Pelo que se viu no Pan, porém, a missão será difícil. É claro que a seleção que foi a Toronto não é a ideal, já que não conta com as atletas da WNBA. "A equipe precisa de mais jogos amistosos. Não adianta fazer uma cobrança maior na equipe assim. Precisamos mais de rodagem (...) a equipe vai seguir crescendo. Valeu a experiência. A gente perdeu do Canadá e vai se encontrar de novo daqui 15 dias. Não vejo a hora de jogar contra elas de novo. Foi uma das maiores lições que tive", afirmou a experiente pivô Kelly após a partida.