Thiago Pereira: "Um dia vão quebrar esse recorde. Até lá, vou aproveitar"

Bruno Doro

Do UOL, em Toronto (CAN)

Uma semana antes de Thiago Pereira se tornar o maior atleta dos Jogos Pan-Americanos, seu primo se casou. O nadador seria padrinho, mas não estava lá. Foi apenas um dos muitos compromissos familiares que ele deixou para trás. Foi só mais um dos momentos que deixou de repartir com as pessoas de quem gosta para se dedicar ao esporte. Hoje, o Brasil agradece por isso.

"Eu tive de abrir mão de muita coisa. O número de eventos familiares que faltei é grande. Mas você está buscando o sonho", diz o nadador, que na noite de sábado chegou a 23 medalhas conquistadas em quatro edições do Pan. Nunca nenhum atleta subiu tanto ao pódio. "Em alguns anos, quando olhar para trás, eu vou ter noção do que tudo isso significou. Sei que um dia vão quebrar meu recorde. Mas até lá, vou aproveitar".

Após fazer uma verdadeira maratona, em que caiu na água nove vezes em cinco dias, conquistou cinco medalhas. Foi ouro nos três revezamentos (4x100m livre e medley e 4x200m livre). Prata em sua especialidade, os 200m medley. E bronze nos 200m borboleta. E ainda teve um trauma: a desclassificação nos 400m medley, em que teria deixado de tocar com as duas mãos na borda em uma das viradas.

Em entrevista na Casa Brasil, onde todos os medalhistas brasileiros se reúnem para comemorar as conquistas, ele fez um resumo sobre o Pan. Confira os principais trechos:

Pressão do recorde

Chega um momento em nossa carreira em que as pessoas acabam criando uma expectativa para os resultados. Não tem jeito. A partir do momento que você atinge um estágio no esporte, precisa aprender a conviver com isso. Faz parte do jogo. Qualquer grande atleta passa por isso. No futebol, na natação ou no vôlei. Tem de aprender a lidar com isso, para não afetar a performance. Eu pensei dia a dia. Mas é claro que a contabilidade esteve sempre lá, no subconsciente. O pessoal sempre falando que faltam três, faltam duas, falta uma. Isso acaba entrando na sua cabeça. Faz parte do jogo.

Sobre ter atingido um patamar inédito no Pan

É importante aproveitar esse momento. Daqui a alguns anos, tudo isso vai virar lembrança. Quando começo a ver o que passei em Olimpíadas, em Mundiais, nos Sul-Americanos, sinto o maior orgulho de tudo o que fiz. Sei que não foi fácil. E que continua não sendo. Nunca é. E não ser fácil é o que torna tudo mais emocionante e mais gostoso.

As coisas que teve de abrir mão

Muitas vezes, você tem 20 ou 21 anos e quer sair, fazer o que bem entender. Todo mundo tem o direito de viver momentos assim. Mas ser cabeça dura não te ajuda em nada. Tudo na vida tem que ter equilíbrio. Na Vida pessoal, no treino ou no trabalho. Uma coisa em excesso vai prejudicar outras. Eu tive de abrir mão de muitas coisas que não queria. Em muitos eventos familiares, eu deixei de participar. Nesse último fim de semana mesmo. Deixei o casamento do meu primo de lado. Eu seria o padrinho. E estava aqui. Faz parte. São momentos em que você sente por não estar ao lado da sua família. Ao mesmo tempo, está buscando um sonho.

Sobre a eliminação nos 400m medley

A cada ano a gente aprende alguma coisa diferente. Cheguei a esse Pan com muita experiência, mas foi um baita aprendizado. A desclassificação nos 400m medley foi o grande exemplo. Todo o carinho que recebi dos meus fãs, da família, dos amigos... As mensagens me fizeram sentir ainda mais acolhido e querido. Isso me deixou bastante motivado. Me deu forças para apagar aquilo e partir para a próxima. Eu vi que não era só o Thiago que estava competindo e buscando aquele recorde. É mais gente. É um país inteiro.

Sobre a duração do recorde

Tem que deixar rolar. Eu mesmo não sabia que iria alcançar essa marca em 2003, quando disputei o meu primeiro Pan (em Santo Domingo, da República Dominicana). Um dia, vão bater. Todos os recordes estão aí para serem batidos. Não sei quanto tempo vai durar. Até lá, vou aproveitar.

O recorde pode aumentar?

Não sei. Vocês pensam muito longe. Já estão em Lima (para o Pan-Americano de 2019, que será no Peru). Antes, temos muita coisa para acontecer. Primeiro é o Rio-2016. Depois, a gente vê o que vai acontecer.

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