Adaptação fora da tribo dificulta inclusão de índios atiradores no Rio-2016
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto
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Rebecca Blackwell/AP
Alvo completamente furado depois da prova de tiro com arco no Pan
O Brasil já identificou talentos indígenas que, de fato, poderiam praticar o tiro com arco em alto nível. Para a confederação do esporte no país, há um obstáculo: a adaptação do índio ao ambiente fora da tribo.
O presidente da confederação de Tiro com Arco, Vicente Fernando Blumenschein, contou que já fez prospecções, e competições em tribos no Mato Grosso, e no Amazonas. Em uma delas, por exemplo, atletas experientes e índios trocaram de equipamento - os primeiros ficaram com os arcos e flechas indígenas e os nativos com o equipamento olímpico.
"Quem você acha que ganhou? Eles. São capazes de acertar um alvo a 60 metros de distância. Saí para pescar com eles com arco, só acertei um peixe, e eles acertaram vários", contou o dirigente. Segundo Blumenschein, índios conseguem se adaptar bem ao tiro com arco olímpico.
O problema é tirar o indígena do seu ambiente. O índio e arqueiro Dream Braga da Silva chegou a entrar na seleção olímpica em 2014, e ficou três meses no centro de treinamento em Maricá. Só que, depois da ascensão, passou a ter alguns resultados ruins e voltou para a tribo Kabeba, no Amazonas. Com isso, está praticamente descartado o projeto de ter um indígena na Olimpíada do Rio-2016.
"Estamos pensando para 2020 ou para 2024", contou Blumeschein, que é casado com uma indígena. Há campeonatos de arcos naturais e um centro de treinamento no Amazonas, mas fica a largas distâncias das tribos – cinco ou seis dias de barco. Além disso, com cortes de investimento, foi preciso concentrar esforços no centro em Maricá.
O dirigente destaca, entre as tribos, o desempenho dos Cinta Larga e dos Araras, no Mato Grosso. Apesar das dificuldades de adaptação, ele não perder as esperanças de contar com o talento indígena para acrescentar ao crescimento do esporte, que voltou a ganhar uma medalha no Pan após 32 anos.