No Pan de Toronto, velejadores se livram de "sofás" da Baía de Guanabara

Rodrigo Mattos

Do UOL, em Toronto

  • Harry How/AFP

    Velejadores competem com um belo cenário de Toronto ao fundo

    Velejadores competem com um belo cenário de Toronto ao fundo

Em uma hora de barco até o Real Iate Clube Canadense, não se vê nenhum saco plástico, lixo ou sofás no Lago Ontário onde se realizam as competições de Vela do Pan-2015. Atletas até lavaram fruta na água que é a utilizada para se beber em Toronto. Existe, sim, poluição em partes do lago, mas um cenário bem menos grave do que o da Baía de Guanabara onde se ocorrerão os eventos de iatismo na Olimpíada Rio-2016.

"Lavei a maçã na água hoje", contou o velejador de Hobbie Cat Claudio Luiz Teixeira Jr, da classe Hobbie 16. "Não tem comparação. A Baía de Guanabara está podre. Chega ser um perigo para o barco porque bate saco de lixo, bate sofá no barco. Pode prejudicar uma regata", completou Bruno de Oliveira, seu parceiro.
 
De frente para a cidade de Toronto, o Lago Ontário também sofre há muitos anos com a pesca, indústrias e desde o último século com a poluição. Só que há um combate constante contra a degradação desde a década de 70 em uma série de acordos entre governo e entidades não-governamentais.  
 
A principal organização é a "Lake Ontário Waterkeeper" que pressiona o governo para conter despejos de indústrias no lago, e monitora a qualidade da água. Com isso, a maior parte das praias está própria para banho, e o lago abastece 9 milhões de pessoas com água potável após tratamento. Há áreas mais poluídas perto de Hamilton, mas a parte perto de Toronto está limpa e pode, sim, ser usada para lavar uma fruta.
 
"Esse problema existe em todos os lugares", contou o subsecretário de projetos especiais da Casa Civil do Estado do Rio, Rodrigo Vieira. "Para o evento-teste, já estamos usando os eco barcos e as eco barreiras e a competição acontecerá sem lixo. Queremos chegar aos 80% de tratamento da baía."
 
Quem conhece bem a Guanabara se mostra bastante descrente com a promessa como é o caso de Fernada Decnop, velejadora da classe Laser Radial da delegação brasileira, e natural de Niterói.
 
"Há uma diferença para o Rio porque a Baía é mais fechada. Mas há uma questão de educação. Não sei se os eco barcos e as eco barreiras vão funcionar. É uma solução provisória. Tem que fazer tratamento de esgoto", disse ela.
 
Quem esteve na Guanabara e veio de fora também não tem uma boa impressão. "Topamos com um pacote de lixo flutuando. A água não está limpa", disse a argentina Maria Branz, da classe 49erFX, que faz uma cara feia.
 
No caso do Lago Ontário, nenhum competidor relatou presença de lixo, mas não é sempre assim. A organização "Lake Ontario Waterkeeper" relatou que só em uma chuva forte em julho de 2013 foi despejado 1 bilhão de litros de detritos no lago próximo de Toronto. A questão é que o governo gastou na última década cerca de 1,5 bilhão de dólares canadenses (R$ 3,7 bilhões) para tentar limpar as águas e passou a criar alertas sobre as praias impróprias.
 
No Rio, o governo do Estado afirmou ter aumentado de 20% para 50% a quantidade de água tratada da baía no projeto da Olimpíada. O projeto tem descontinuidades, apesar de manter a meta de 80% de despoluição. Organizações não-governamentais do Brasil dizem que foram gastos US$ 1,2 bilhão (R$ 3,8 bilhões) em 20 anos na Guanabara, sem resultados.
 
"Óbvio que a poluição é uma preocupação. Não será tão desfavorável para as regatas. Acho que as regatas, no final, não serão tão afetadas. Mas seria o maior legado da Olimpíada para o Rio se fizessem a limpeza da Baía", resumiu o campeão olímpico Robert Scheidt.

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