"Classificados por e-mail" colocou holandês na seleção brasileira de hóquei
José Ricardo Leite
Do UOL, em Toronto (CAN)
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UOL
Paul Bernard Duncker, um dos principais jogadores da seleção de hóquei
A missão recebida pelo técnico da seleção brasileira de hóquei na grama, Claudio Rocha, em 2011, não era nada fácil: pegar um time sem tradição alguma no esporte, caçar talentos (muitos deles amadores) e tentar conduzi-los de forma competitiva aos Jogos Olímpicos de 2016. E, para isso, teve que começar um processo seletivo - até via e-mail - com alguns candidatos.
O treinador tem à sua disposição cinco estrangeiros no elenco brasileiro, sendo quatro holandeses e um inglês, todos eles com algum elo de ligação com o país (seja filho de pais estrangeiros e nascidos no país ou com algum dos pais sendo brasileiro). Com quase todos o processo foi semelhante: os jovens ouviam falar que o Brasil estava em busca de talentos e procuravam a federação. Claudio então passou a respondê-los, agendar encontros durante os trabalhos do time e depois observá-los em treinos. Alguns gringos até ficaram pra trás e não foram selecionados.
"Começaram a surgir alguns ´ah, sou brasileiro também´, porque começaram a ver na mídia lá da Holanda que o Brasil estava formando time e jogava hóquei. Começaram então a mandar e-mail pra gente, eles pegavam nosso contato com a federação holandesa. A gente falava pro cara que ia ter uma concentração nossa e perguntávamos se ele poderia ir. Trazíamos o cara, avaliávamos nos treinamentos e se achássemos interessante, selecionávamos pra competição. Esses ficaram entre os 16 atletas do Pan", explicou.
Um deles é o jovem Paul Bernard Duncker, 16 anos, filhos de holandeses e que nasceu em São Paulo quando sua família estava em uma viagem de trabalho. Ele vive em Eindhoven, na Holanda. Joga atrás pelo lado esquerdo e é um dos pilares do sistema de defesa do treinador. Ele lembra que há menos de dois anos disparou o e-mail e agora já faz parte do time que na quinta conseguiu sua primeira vitória em Jogos Pan-Americanos, com o 1 a 0 sobre o México.
"Mandei o e-mail em dezembro de 2013. Eu só mandei o e-mail, disse que era holandês e jogava hóquei na grama na Holanda e perguntei se tinha uma vaga para mim no time júnior do país. Eu voei para o Rio de Janeiro para um período de avaliação. Ele gostou de mim e comecei a jogar", declarou.
Duncker ainda estuda em seu país e se junta ao time para treinamentos e competições. Leva a vida nos dois países e pensa até na possibilidade de terminar a faculdade no Brasil. O que atrapalha é a falta de familiaridade com o idioma. Perguntado sobre o que mais gosta da "nova pátria", deu sua resposta. "Vocês têm praias legais, pessoas muito legais, mulheres bonitas, é muito bom."
O defensor da seleção de hóquei diz que ainda não tem namorada, mas fez elogios às mulheres brasileiras e disse que em seu país alguns costumes são diferentes. "Não tenho namorada na Holanda, mas as brasileiras eu gosto. Elas são lindas. Eu não tive muito tempo no Brasil para ir atrás de meninas, mas eu ouvi que são bem diferentes das holandesas. Na Holanda, você precisa ser mais cuidadoso com o que fala, não pode ficar olhando para uma garota. No Brasil, todo mundo fica olhando para as meninas. Na Holanda, não podemos fazer isso, é diferente."
Os outros jogadores estrangeiros da seleção são os irmãos Patrick e Yuri Van der Heijden, holandeses, e Stephane Simthe e Christopher Mcpherson, que são ingleses.
Feito histórico
A vitória de quinta-feira do Brasil sobre o México no hóquei sobre grama foi um feito histórico do esporte no país e marcou o primeiro triunfo em jogos Pan-Americanos. Antes, eram seis jogos com seis derrotas. Apesar de ser sede dos Jogos de 2016, o Brasil não tem vaga certa e depende de uma sexta colocação, imposta pela federação internacional do esporte, para ter o direito de participar. Antes, o time feminino já fora excluído pelo mesmo critério, falta de resultados no nível internacional.
O Brasil via o jogo desta quinta e o próximo, contra o Chile, como os dois em que poderia pontuar e tentar ficar na segunda colocação para fugir da fortíssima Argentina nas quartas de final. Caso os brasileiros vençam seu jogo nas quartas, ficarão entre os quatro e conseguirão a vaga para 2016. Em caso de derrota, terão que disputar o quinto e sexto lugar com outros perdedores. O fato foi muito comemorado.
"É uma sensação boa de falar, nossa primeira vitória em segunda participação. É uma sensação muito boa e essa vitória dá tranquilidade pro jogo contra o Chile. Se perdêssemos hoje esse jogo decidiria se ficaríamos em quarto do grupo ou não. E o quarto do grupo pega a Argentina no próximo cruzamento, o que diminuía nossa chance de classificação. Agora podemos até sonhar com uma semifinal", falou o técnico Claudio Rocha.
O esporte faz parte do programa pan-americano dede 1967, mas os brasileiros só haviam participado como país sede, na edição do Rio de Janeiro.