Porto-riquenho só saca Jornada nas Estrelas no Pan. Mas não como Bernard
José Ricardo Leite
Do UOL, em Toronto (CAN)
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UOL
Roberto Rodriguez, jogador de Porto Rico, arrisca saque jornada nas estrelas
Existem lances no esporte que ficam tão marcados quanto títulos, jogadores ou equipes. Como o gol que Pelé não fez do meio-campo na Copa de 1970 ou os dribles "falsos" de Garrincha no futebol. No vôlei também há um brasileiro que inovou e ficou marcado: nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, Bernard impressionou a todos com o saque chamado Jornada nas Estrelas, em que lançava a bola quase até o teto do ginásio e atrapalhava a recepção rival.
Três décadas após a ação inovadora do hoje cartola do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), um jogador porto-riquenho tem abusado do lance nas partidas de vôlei de praia dos Jogos Pan-Americanos de Toronto: Roberto Rodriguez virou atração por seus saques na arena montada em Toronto. O índice de acerto, porém, passa um pouco longe de Bernard.
O jogador de 28 anos ainda não tem títulos de expressão na carreira, mas não falta ousadia. Na vitória sobre a dupla de El Salvador, junto de seu companheiro Erick Haddock, arriscou 14 vezes o saque jornada, mas que é batizado por ele de outro nome: "Chamo de Sky Ball, bola no céu", explicou. Ele conta que já ouviu falar de Bernard, mas não foi por meio dele que decidiu ousar.
"Um companheiro meu que jogava comigo na Florida, era uruguaio e hoje vive na Itália. Ele fazia muito esse saque nos treinamentos e então aprendi. Eu ouvi falar (de Bernard), mas nunca tive oportunidade de conhecê-lo, mas quem sabe um dia. Só vi por imagens", contou.
No jogo contra a dupla de El Salvador, ele começou errando logo o primeiro, de maneira bizarra: a bola caiu em sua própria quadra. Errou três das seis primeiras tentativas, mandando uma por trás da quadra rival e outra pior ainda: foi para a lateral, na direção do público. Mas foi perseverante, continuou, com algumas caindo dentro, e só no segundo set tentou variar mandando alguns viagens.
O índice de efetividade, no entanto, não é dos melhores. Das 14 tentativas, três foram erradas direto (cerca de 21,5%). E nas vezes que entra o saque não parece atrapalhar tanto os rivais: de todas as vezes que conseguiu acertar a bola do outro lado, não obteve nenhum ace e apenas quatro vezes saiu o ponto depois do saque. Ou seja, em 71,5% das vezes que sacou assim o ponto foi do adversário. Aproveitou seu saque apenas 28,5%, baixo para os padrões do esporte.
Ainda assim, Rodriguez acredita que mais funciona do que dá errado. E não vai parar. "Uso basicamente o sol e o vento. Espero que eu tenha mais acertos do que erros. Penso que complica o rival com o efeito da bola, o tempo dela engana, principalmente com sol e vento", falou.
O saque pode não estar entrando tanto, mas pelo menos a dupla porto-riquenha tem conseguido ganhar os jogos. Venceu as duas partidas que realizou até agora e já está na terceira rodada do torneio.