Conservador, prefeito de Toronto defende diretos LGBT e incentiva bicicleta
Murilo Garavello e Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto (CAN)
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Murilo Garavello/UOL
John Tory, prefeito de Toronto, concede entrevista ao UOL Esporte
Prefeito de Toronto durante a realização do Pan-2015, John Tory é um político singular para o padrão a que se está acostumado no Brasil. Começa pelo seu partido que tem o nome de progressista conversador. Não por acaso ele tem posições conservadoras em relação ao dinheiro e liberais em outro tópicos.
É um conservador que defende os direitos de menores contra cadeias comuns, participa de passeatas de orgulho gay, defende a descriminalização da maconha e quer aumentar o uso de bicicletas no transporte na cidade. Todas pautas identificadas com políticos de esquerda no Brasil.
Em relação ao Pan, Tory defende o legado da competição pela melhoria em bairros e principalmente por um suposto potencial para atrair turistas e possíveis interessados em morar na cidade. Não diz que é um passo para a Olimpíada. O projeto olímpico, embora incentivado pelo COI, vai depender da aceitação da população ao Pan.
UOL Esporte: Há uma questão com as distâncias das sedes do Pan já que as sedes são muito afastadas...
John Tory: A candidatura foi da província e não só cidade. Colocaram as sedes em lugares diferentes. Foi uma decisão deliberada. Se fosse só de Toronto, seria concentrado. Como no Rio e em São Paulo. São grandes cidades, mas não querem que tudo aconteça lá. Espalharam a cidade. O dinheiro explica isso. Nós (prefeitura) assinamos o menor cheque (maior financiamento foi do Estado e do governo federal). Somos o menor financiamento
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UOL Esporte Gostaríamos que o senhor explicasse por que seu partido é chamado de progressista-conservador?
John Tory: É histórico pela união entre o partido conservador progressista. Somos liberais em questões como o programa de saúde, direitos de gays, e esse tipo de coisa. Faz sentido de uma forma diferente (o nome). Significa bastante para mim (o nome) porque sou conservador na questão do dinheiro, mas liberal nas outras questões.
UOL Esporte: O senhor é a favor da descriminalização da maconha, esteve em passeatas pelo orgulho gay...
John Tory: Para ser um prefeito de Toronto legítimo, tem que acreditar em justiça social, em respeito de direitos humanos, gays, e direitos religiosos. Se não for assim, não será bem-sucedido porque essa cidade é tão diversa. Essa cidade tem 60% da população que vive aqui que não nasceu aqui. Se quer ser legítimo, tem que ser uma pessoa que genuinamente abraça diversidade.
UOL Esporte: O senhor ouvir falar do que acontece agora no Brasil onde se discute a redução da maioridade penal para 16 anos no Congresso? Qual sua opinião?
John Tory: Li sobre essa questão político. Não é meu papel falar sobre o que acontece em outros países. Mas acreditamos que os jovens ofensivos devem ser tratados diferentemente. Você tem uma chance muito maior de botá-los de volta na trilha certa de forma positiva se não os submeter ao sistema prisional principal após cometerem o primeiro erro. Mas não cabe a mim comentar porque não sei os detalhes, mas li nos jornais. Pode ser ofensivo aos brasileiros eu falar. Mas temos nossa filosofia. Aqui também há uma discussão. Aqui você, mesmo se tiver 16, pode ser sentenciado se a corte decidir que você premeditou o crime e o fez de forma deliberada. Claramente, você atuou como um adulto. Na maioria dos casos, a opção é dizer não vamos colocar você em uma penitenciária, e vamos tratar de forma diferente. Vamos botá-lo em um centro de recuperação para jovens com 17 e 18 anos para o resto da sua vida correr bem. É como fazemos aqui.
UOL Esporte: E em relação à droga. O que você pensa?
John Tory: Minha visão sobre drogas é pessoal. Penso de forma prática. Acredito que não deve existir uma lei que não possa tratar de forma desigual pessoas ou as pessoas questionam a lei. Várias pessoas que são pegas com maconha o governo nunca as processa. Outras pessoas são presas e condenadas. Ou seja, não há um tratamento igual. Segundo, há um grande custo para a promotoria. Terceiro, um grande número de pessoas usem ocasionalmente maconha e não deveriam processadas. Então, entendo que deveria ser descriminalizadas. Não significa legalizar.
UOL Esporte: No plano de transporte, há uma discussão em Toronto e em São Paulo sobre o ciclismo. Toronto está na frente nesta questão da bicicleta. Como senhor vê o papel da bicicleta na crise do trânsito?
John Tory: Aconteceu há dez anos (aumento do uso de bicicletas). Há dez anos, você não via ninguém. Agora, você vê milhares de pessoas. E mesmo no inverno.
UOL Esporte: O que veio primeiro: as ciclovias ou as bicicletas?
John Tory: Vieram ao mesmo tempo. Houve grandes números de pessoas que por questões de meio-ambiente, pelo custo de transporte, adotaram a bicicleta. Houve um sentimento de que dirigir o carro é afetar o meio-ambiente, o que é verdade. E outro grupo de pessoa viu que dirigir o carro é caro. Houve desenvolvimento grande do centro e a bicicleta foi a melhor resposta. Superaram a questão do inverno. Isso criou a necessidade de criar as linhas para as bicicletas, que eram só uma linha. Mas não eram tão seguras porque os carros ficavam próximos. Minha postura é por buscar ciclovias separadas e estão crescendo porque são mais seguras.
UOL Esporte: O senhor tem oposição nestas ciclovias?
John Tory: Sim, Fizemos uma de oeste para leste. Fizemos consultas online: pessoas podiam opinar. Houve oposição, mas bem pequena. Houve crescimento grande de ciclismo. Prometemos tirar se fosse um fracasso. Vimos se havia oposição, se havia impacto no trânsito e nos estabelecimentos comerciais. Então, vimos que podem fazer outras. A chave é escolher o lugar certo para fazer.
UOL Esporte: O senhor vai retirar dos Jogos Pan-Americanos o que esperava para a cidade?
John Tory: Sim. A coisa mais importante é pessoas como você, visitantes, especialmente mídia, notem que vivemos juntos. É a coisa mais importante para atrair investimentos que as pessoas que venham se sintam aceitas. Queremos as pessoas mais preparadas do mundo. E todas as pessoas estão vindo. Estamos fazendo propaganda com países grandes como Brasil, Venezuela, Colômbia, que queiram viver, e passear aqui. E outra coisa é a área da Vila do Atletas que era contaminada e agora poderá ter moradia. E há as instalações esportivas. E o trem para o aeroporto. Essas coisas seriam feitas, mas seriam feitas mais tarde. Então, há grande retorno.
UOL Esporte: O senhor pensa nisso em futuras candidaturas para eventos esportivos? O senhor perguntou bastante para COI sobre a Olimpíada?
John Tory: Sim, ele (presidente do COI, Thomas Bach) que começou. Deu uma entrevista dizendo que Toronto deveria se candidatar à Olimpíada. Toronto já se candidatou duas vezes e perdeu. Não quero me tornar o prefeito que bate o recorde de derrotas em candidaturas (risos). Fora a brincadeira, é uma decisão grande. Tem que ter a prefeitura e o governo apoiando. Queria perguntar. Eles (COI) mudaram bastante o processo de escolha. Agora eles encorajam você a fazer instalações temporárias, contribuem com dinheiro o que não faziam. O primeiro-ministro também recebeu de Bach pedido. Temos que ter certeza de que passamos pelo Pan antes.
UOL Esporte: Antes dos Jogos, houve bastante oposição aos Jogos. Qual o seu sentimento agora?
John Tory: Houve oposição pelo tráfego e talvez pela questão do gasto de dinheiro. Mas acho que a maioria da população vê o festival, vê o tráfego se resolvendo, e vê os projetos que foram resolvidos, acho que se sentem mais positivos. Tenho certeza de que reclamam no Rio que há gasto de dinheiro, que há gasto de tempo. Quando você está no governo, há pessoas na oposição. Por isso digo que em qualquer candidatura que vamos fazer, vamos ver como ficou e vemos a implicação e vamos tomar decisão. O exemplo que dizem é do Rio: teve o Pan e depois a Olimpíada. É o que querem? Digo não. Queríamos o Pan. Não há uma segunda parte, necessariamente.
UOL Esporte: O senhor faria uma consulta à população ao pública sobre Olimpíada?
John Tory: Sim, faria consulta. Faremos pela internet e encontros de audiência pública. Poderiam vir, mesmo que poucos. Não seria decisivos, mas queremos ouvir. Perguntemos o que gostaram e o que não gostaram. Não é confiável como pesquisa, mas é uma referência.