Badminton não gosta muito do jeito brasileiro de comemorar
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
Quando Luana Vicente marca um ponto no badminton, ela sempre pensa um ou dois segundos antes de comemorar. Lembra das broncas que já ouviu, vira de costas para os rivais e, aí sim, grita, levanta os punhos ou sorri. A modalidade está tentando conter as provocações no meio de uma comemoração. E o jeito brasileiro de celebrar um ponto não anda agradando muito.
"É uma recomendação do circuito mundial. Sabemos disso. Mas, às vezes, não dá para controlar, né? Eu sempre ouço os juízes falando: 'Assim não, Luana. Vira para a sua quadra'", conta a garota de 20 anos, medalhista prata nas duplas feminina dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, resultado inédito para o Brasil.
O motivo para esse pudor nas comemorações é histórico. Esporte popular na Ásia, ele se tornou uma verdadeira batalha de intimidação nos últimos anos. Com o pós-ponto se tornando quase tão importante quanto o ponto em si, os dirigentes estabeleceram algumas regras rígidas.
É proibido comemorar olhando para o rival. E os jogadores devem tentar se conter ao máximo. Quem não cumpre as regras é advertido com um cartão amarelo. Três cartões em uma mesma temporada rendem uma multa de 500 dólares, mais de R$ 1,5 mil – e se as advertências seguirem, cada amarelo custa mais US$ 250.
"As comemorações estavam ficando tão escancaradas que, depois dos jogos, tinha jogador que nem mesmo ia apertar a mão do rival", explica o canadense Toby NG, em entrevista ao Toronto Star, jornal parceiro dos Jogos Pan-Americanos.
Os brasileiros sentiram isso na final masculina do Pan, em que Daniel Paiola e Hugo Arthuso perderam para os norte-americanos Phillip Chew e Sattawat Pongnairat. "O árbitro chamou atenção. Mas foi das duas duplas. Eles estavam comemorando bastante, tentando intimidar. Esse é o objetivo, no fim das contas", fala Arthuso. "A gente também faz isso. Às vezes, exagera. Depende do juiz. Mas em alguns momentos, você consegue controlar".
Gostando ou não do jeitinho brasileiro de comemorar, o badminton terá de se acostumar com os atletas do país. Os planos da Confederação Brasileira da modalidade para conquistar uma medalha estão em andamento. No Rio-2016, ainda deve ser cedo. Mas em 2020, atletas do país podem chegar ao nível necessário para ameaçar as potências do mundo.