Um time que ganhou 13 medalhas em 14 possíveis pode ser uma decepção?
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
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William Lucas/ Inovafoto/ Bradesco
Tiago Camilo comemora tricampeonato Pan-Americano em Toronto
O judô brasileiro fechou os Jogos Pan-Americanos nesta terça-feira (14) com 13 medalhas. Em 14 categorias. O esporte que mais medalhas olímpicas deu ao Brasil fechou seu Pan com 92% de eficiência. Mesmo assim, nem todo mundo sorri pelos lados da Confederação Brasileira de Judô. O motivo? O choque entre a expectativa e a realidade.
Foram cinco medalhas de ouro (David Moura, Luciano Correa, Tiago Camilo, Charles Chibana e Érika Miranda), duas de prata (Mayra Aguiar e Felipe Kitadai) e seis de bronze (Maria Suelen Altheman, Maria Portela, Victor Penalber, Mariana Silva, Rafaela Silva e Nathália Brígida).
No Pan de Guadalajara, a modalidade já tinha feito as 13 medalhas em 14 chances. Mas saiu com seis medalhas de ouro e mais finalistas – foram três bronzes. Então, quando os cartolas começaram a planejar o Toronto-2015, a ideia era chegar aos 100%. E com um número maior de títulos.
"Quando traçamos metas, elas precisam ser ambiciosas. As nossa eram. Estamos há alguns anos com esse número de 13 medalhas nos Campeonatos Pan-Americanos e achamos que seria possível superar. Mas o que vimos foi uma evolução muito grande todos os países. O importante é olhar para nossos principais rivais, Cuba, e ver que a distância aumentou", disse o diretor de alto rendimento da CBJ, Ney Wilson.
O único que não medalhou na equipe foi Alex Pombo, dos leves. Ele perdeu na decisão da medalha de bronze. E volta para casa com suspeita de lesão nos ligamentos do joelho – os médicos da delegação preveem cirurgia para o atleta, que deve perder o Mundial de Astana, no Cazaquistão, no fim do ano.
Não que as performances dos outros tenham sido ruins. Não foram. Quem conquistou medalhas de ouro o fez com propriedade. Érika Miranda é a dona de sua categoria. Charles Chibana já foi número 1 do ranking mundial. Tiago Camilo venceu um campeão mundial.
Mas Victor Penalber? Ou Rafaela Silva? O primeiro foi número 1 do ranking. A segunda, campeã mundial. E mesmo assim saíram com o bronze. Nenhum estava exatamente decepcionado com a medalha. Jovens, eles sabem da importância de subir ao pódio em uma competição grande como o Pan. Mas era esperado mais.
"Até agora, a qualidade das medalhas não é o que a gente queria", já admitia Luiz Shinohara, o técnico da seleção masculina de judô, ainda no segundo dia de competições. E naquele momento, ele tinha colocado dois atletas na final, com um ouro de Chibana e uma prata de Felipe Kitadai – e Pombo ainda não tinha perdido a medalha de bronze.
Existem justificativas para isso. Nos bastidores, fala-se em falta de sorte em um escorregão, pressão para que atletas da casa avançassem e lesões. São detalhes que, no ano que vem, quando o Brasil luta em casa no Rio 2016, devem acontecer a favor dos judocas verde-amarelos. Mas e a pressão? Teve atleta que, claramente, sentiu o peso da competição no Canadá. "Era isso que a gente queria. Observar os atletas nessa situação. Ver como podemos trabalhar. Era nosso último ensaio. Tínhamos duas psicólogas na equipe, analisando o comportamento dos atletas, para saber como trabalhar no ano que vem", completa Ney Wilson.
E, para responder a pergunta: ganhar 13 medalhas no judô é uma decepção? A resposta vem do presidente da Confederação, Paulo Wanderley: "Os atletas têm responsabilidade. Nós, na gestão temos responsabilidade. E da nossa parte não está faltando nada. Eles têm de contribuir com o resultado".