Como a tenista "Pica Power" mexe com orgulho de um país após mágoa antiga

José Ricardo Leite

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • AFP PHOTO / MARTIN BUREAU

    Monica Puig, a Pica Power, desperta orgulho nos porto-riquenhos

    Monica Puig, a Pica Power, desperta orgulho nos porto-riquenhos

Pica Power. Cartazes com este curioso nome costumam ser vistos nos jogos de tênis com torcida porto-riquenha, sobretudo nos torneios na América Central e do Norte, ou então nas redes sociais pela palavra #picapower  em manifestação de apoio a uma das principais esportistas de Porto Rico. Trata-se da tenista Monica Puig, que tem este apelido pelo estilo raçudo e perseverante (explicação ao final).

A jogadora é uma das maiores estrelas da ilha que faz parte dos Estados Unidos, mas que no âmbito esportivo disputa competições de forma independente. E a escolha por representar a ilha de pequena extensão territorial mexeu com os brios da população local e a tornou sinônimo de orgulho. "Eu sou de Porto Rico para que todos vocês saibam, minha gente", gritou a tenista em frente a uma câmara de TV logo após a vitória sobre a canadense Abanda Francoise em sua estreia nos Jogos Pan-Americano de Guadalajara.

Puig nasceu em Porto Rico, mas se mudou para Miami com apenas um ano após seu pai, um engenheiro, ser transferido de seu trabalho para uma filial na Florida. A bela tenista viveu lá desde então e nunca se estabeleceu no país de origem. Poderia competir pelos Estados Unidos pelo tempo de residência e ter até mais facilidades na carreira. Mas preferiu a pequena nação pelo orgulho que carrega dos pais. A reportagem é logo interrompida quando cita que a tenista teve a chance de jogar pelos EUA.

"Eu sou de Porto Rico e jamais pensei em competir pelos Estados Unidos. Sou de Porto Rico, sou de Porto Rico", repetiu duas vezes em entrevista ao UOL Esporte. "Pra mim é um orgulho imenso defender meu país em qualquer competição. É muito emocionante, especial. Me sinto incrível e dou o máximo em uma competição por esta nação", falou.


Esta é a segunda edição de Jogos Pan-Americanos que Pica Power disputa. Foi prata em Guadalajara, em 2011. Também disputa a cada quatro os Jogos Centro-Americanos, disputados por países da América Central e Caribe. Para jogar essas competições, que não dão pontos para o ranking mundial, ela abre mão de premiações muito mais robustas do circuito internacional, além de desperdiçar a chance de disputar torneios que podem melhorar seu ranking. Tudo pelas cores de sua nação. "Adoro Pan-Americanos, Olimpíadas e Centro-Americanos. Me sinto muito mais especial competindo pelo meu país."

Preferir a pequena ilha em detrimento à potência dos EUA mexeu com os brios do povo local sobretudo por uma mágoa do passado com outra tenista. Em caso semelhante (mas com outro desfecho ao de Puig), na década de 80, a ex-tenista Gigi Fernandez, nascida em San Juan, capital porto-riquenha, preferiu competir pelos Estados Unidos, onde foi morar. Gigi depois ganharia duas medalhas de ouro olímpicas e 17 torneios de Grand Slam nas duplas. Tudo sob a bandeira norte-americana.

"Temos muito orgulho da Puig. Ela é uma pessoa carinhosa, humilde e alegre. Abraçamos ela demais porque mexeu com a autoestima do povo. Ainda mais depois do caso da Gigi, que foi ganhar medalha de ouro pelos Estados Unidos em um caso inverso a esse. Todos nos lembramos até hoje quando ela começou a dizer a frase ´yo soy boricua (porto-riquenha)´nos primeiros Jogos Centro-Americanos", falou o jornalista Ricardo Torres, da TV Telemundo, de Porto Rico.

Pica Power

O apelido surgiu por meio de seu treinador, o belga Alain de Vos, como forma de incentivar a jogadora em seus treinamentos, ainda quando jovem. A frase "picar (cortar) pedra" em Porto Rico tem sentido semelhante a "comer grama" no Brasil.

O técnico queria vê-la ser raçuda nos treinos e por isso começou a chama-la de Pica Power, que significa algo como a "super perfuradora". "Isso significa picar(furar, cortar) pedra, sempre ouvi isso de um treinador", explicou.

"Picar pedra, basicamente, foi o meu treinador que fez isso. A gente me chama assim e fico encantada com isso. Também tive outros, como Mou, mas é esse que pegou mesmo e me chamam. Assim me gostam todos os ´boricuas"

UOL Cursos Online

Todos os cursos