Agora dona de 2 bronzes do Pan, Maria Portela foi babá para treinar judô

Bruno Doro

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • Saulo Cruz/Exemplus/COB

Maria Portela não é a melhor lutadora do time brasileiro de judô que está no Pan-Americano de Toronto. Com apenas 1,58cm, é muito mais baixa do que suas rivais, mais de dez centímetros mais altas, como é a média da categoria médio (70kg). A agora duas vezes medalhista dos Jogos Pan-Americanos (o segundo bronze veio na noite de segunda-feira), porém, compensa na força de vontade.

Ela não desiste nunca. Pudera. Para quem já passou o que ela passou, desistir em uma luta não faria sentido nenhum. Maria nasceu em uma fazendo no interior do Rio Grande do Sul, em Santa Maria. O local tinha sido invadido por sem tetos. Aos oito anos, quando ganhou os primeiros títulos, recebia ajuda de amigos para seguir treinando.

Ao chegar o momento de deixar a cidade para alçar voos mais altos, o dinheiro era curto. Ela teve de se virar. Passou por Criciúma, Joinville e Florianópolis. Por dois anos e meio, trabalhou como babá e morava na casa das famílias. "Saí de Santa Maria muito nova e o dinheiro não dava. Comecei a trabalhar com crianças para conseguir me manter. Quando meu técnico de Criciúma foi para o Japão, me mudei para Joinville e não tinha onde ficar. Foi aí que passei a morar com as famílias dos bebês que cuidava".

Uma das crianças é amiga até hoje. "Ela está com 11 anos e ainda lembra de mim, depois de tanto tempo. Mudou de Florianópolis para São Paulo e sempre que passo pela cidade, nos encontramos. Ela sempre conta como está a vida, uma série de histórias. É especial".

Naquela época de babá, a garota que sonhava ser judoca conseguia treinar apenas uma vez por dia. "Não dava tempo. Tinha de olhar a criança. Só comecei a ter mais tempo quando cheguei em São Paulo". Nesse período, o medalhista olímpico do judô Henrique Guimarães foi fundamental. Ele trouxe a gaúcha para fazer parte da equipe do Centro de Treinamento e Pesquisa de São Paulo. Ela chegou a morar com a mãe do ex-judoca. E também ajudou com os filhos. "Nessa época, foi mais aos finais de semana, para complementar o orçamento".

A história emociona. Que o diga a técnica Rosicléia Campos, ex-atleta olímpica da mesma categoria. "Eu sou fã da Portelinha. Ela é uma garota com uma força incrível. Todo dia de competição, quando entrou com ela, olho para o lado e vejo as outras meninas. Ela é tão pequenininha, tão menor que as outras. Mas merece muito. Hoje (segunda-feira), ela merecia o ouro. Nos preparamos muito para isso, não deveria ter acontecido assim", lamentou, chorando.

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