A exposição do corpo é um problema para atletas? Brasileiros do Pan rebatem
Do UOL, em Toronto*
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Arte UOL
Atletas defendem o direito de expor o corpo e rebater o machismo
"Ela sabia que ia provocar os homens", "Ela quer mídia para sair na Playboy" "Está querendo aparecer e ainda posa de santa". Esses foram alguns dos comentários na matéria do UOL Esporte em que a saltadora Ingrid de Oliveira reclamava de... comentários grosseiros em uma foto que postou no Instagram. Estava de maiô, de costas, e apontava para um placar. A imagem gera discussões: qual o limite entre o elogio ao corpo de uma mulher e o machismo que a vê como mero objeto? Como a repercussão de fotos interfere na vida do atleta?
Em boa parte dos esportes, os atletas têm seu corpos expostos, sejam homens ou mulheres. Em forma, sarados, é natural que atraiam olhares, desejo. Suas fotos geram reações, muitas vezes agressivas de internautas.
A maioria dos atletas mostrou-se incomodado com a situação, e alguns deles indiferentes. E há uma crítica a uma hipocrisia já que, no Brasil, expor o corpo é comum.
"Vi vários comentários de atletas me apoiando. Estamos no século 21. Se você for à praia, vai ver gente com biquíni muito mais curto do que o meu maiô. A foto não tinha nada demais. Estava de maiô de costas. Se postasse uma foto pelada, podiam falar. Mesmo uma foto pelada era meu Instagram, meu direito", disse Ingrid.
Em poucos dias, ela ganhou 40 mil seguidores, mas teve trabalho para apagar todos os comentários agressivos. Decidiu passar a se preservar mesmo que não considere que tenha feito nada demais. O mesmo pensam outros atletas.
"Já aconteceu comigo (de não gostar da reação) em 99 ou 2000. Você faz posições no alongamento que o fotógrafo pode fazer uma foto superbonita, ou tirar uma pornográfica que nem aparece sua cara", analisou Juliana Veloso. "Hoje, não estou nem aí. Só ouço opinião do meu marido e da minha filha." Mas ela entende que a exposição vai "da postura de cada um".
Como Ingrid, outra que posta diversas fotos na internet em que exibe o seu corpo fazendo exercícios é a ginasta Jade Barbosa. Admitiu que há vários comentários que ela não gosta, mas tenta não se importar. "O atleta tem que filtrar porque a gente está sujeito a essas coisas, boas e ruins. Não dá para agradar a todos. As pessoas são cruéis nos comentários", afirmou Jade.
Para a jogadora de rúgbi Beatriz Futuro, a questão é que o esporte muitas vezes fica em segundo plano e há um desrespeito com o atleta. "Acho que muitas vezes nosso trabalho é desvalorizado. As pessoas saem falando o que querem sem saberem ou entenderem. Ela tem que usar maiô para saltar. Querem que ela entre de calça na piscina?", analisou. Seu uniforme tem um short justo, mas não tem a exposição de um biquíni.
Outra discussão é se a exposição atrapalha o desempenho esportivo, debate surgido depois que Ingrid falhou em sua primeira prova. A maioria das esportistas afirmou que não há influência. "Não interfere. Tem tantas outras coisas que interferem mais, como pressão de público, mídia, que essa coisa de beleza fica de escanteio. É sempre bom um elogio e dizer que você é bonita. Mas na competição não tem diferença", contou Thalita Haas, da patinação artística.
Coordenador da seleção feminina de futebol, Marco Aurélio Cunha entende que o que tem que ser combatido é a vulgaridade, mas sem tolher o atleta. "Nossa visão está muito crítica está muito pesada, amarga. A internet é uma terapia. Falar mal e xingar faz bem danado para o doente que escreve essas coisas."
A técnica de Ingrid, Andréia Boheme, vai além e afirma que os comentários grosseiros muitas vezes partem de mulheres porque há uma machismo na sociedade inteira. Sua opinião é que atleta deve continuar postando a foto que quiser, e apenas tomar um pouco de cuidado. "Tem um corpo bonito, pode mostrar. Aproveite agora esse lance de musa."
*Daniel Brito, Fábio Aleixo, José Ricardo Leite, Murilo Garavello e Rodrigo Mattos