Dedada de chileno é fichinha perto das táticas sujas do polo

Bruno Doro

Do UOL, em Toronto (CAN)

  • Satiro Sodre/SSPress

    Guilherme Gomes leva uma cotovelada durante a vitória do Brasil sobre o México no Pan

    Guilherme Gomes leva uma cotovelada durante a vitória do Brasil sobre o México no Pan

Quando o chileno Gonzalo Jara aplicou uma "dedada" no uruguaio Edinson Cavani durante a Copa América de futebol, muita gente ficou horrorizada. Nenhuma dessas pessoas jogava polo aquático. O esporte já parece bruto em cima da água, onde os juízes consegue ver. Embaixo da água, então... As coisas são mais sujas do que muitos imaginam.

"Já aconteceu, sim", admite o brasileiro Adrià Delgado, recém-chegado à seleção brasileira. "Quando joguei na Hungria, aconteceram coisas comigo que você duvidaria. Coisas que ninguém jamais fala em voz alta", completa o jogador, nascido na Espanha, mas filho de pai brasileiro.

As coisas que Adrià menciona são, provavelmente, essas em que você pensou. Os dedos dos rivais entram onde existe espaço. Olho. Boca. Ou mais embaixo - para homens ou mulheres. Puxões e apertões acontecem aos montes. E, sim, incluindo nos órgãos genitais... "Já pegaram em partes que eu achava que apenas minha mulher iria tocar em tocar em toda a minha vida", segue Adrià.

E para quem acha que socos, pontapés e cotoveladas são normais em um contexto como esse, engana-se. Táticas de luta são tão preocupantes quanto dedadas ou puxões. "Já sofri uma fissura na costela, depois de uma cotovelada. E tenho muitas cicatrizes no rosto de socos e pontapés. Embaixo da água, vale tudo", completa o jogador brasileiro, um dos destaques da equipe que venceu os três primeiros jogos que fez no Pan de Toronto até agora.

A equipe, comandada pelo croata Ratko Rudic, venceu por 11 a 9 o Canadá, bateu por 22 a 2 a Venezuela e superou por 22 a 9 o México. O Brasil passou para a semifinal em primeiro lugar e vai enfrentar a Argentina, na segunda-feira, por uma vaga na decisão. No outro lado da chave ficaram EUA e Canadá. Se os brasileiros vencerem, quem passar pelo clássico norte-americano garante a vaga olímpica para o Rio-2016.

Mas, voltando às táticas sujas, você pode perguntar: e o juiz? "É difícil ver o que acontece. Nós apitamos o que acontece em cima da água. Embaixo da água é impossível", conta João Renê Cardenuto, um dos juízes brasileiros que trabalha nos torneios de polo em Toronto. "Quando eu trabalhei no Mundial de Barcelona, em 2013, vi coisas impublicáveis. Eles instalaram câmeras subaquáticas que mostraram tudo isso. Foi feio", completa.

Existem, porém, táticas para evitar que o jogo fique violento demais. No feminino, por exemplo, quem aparecer com o seio à mostra costuma forçar uma punição. "Mas existem aquelas mais espertas, que afundam, deslocam o maiô e pedem a falta. Por isso, precisa sempre aparecer a mão da rival", avisa o árbitro.

Até mesmo o comprimento das unhas é medido: tem gente que deixa de apará-las de propósito e entra na piscina com garras. "Tem gente que tenta, mas antes de cada campeonato, todos passam por uma revista. Quem está com a unha pouco grande tem de cortar. E, em torneios de tiro curto, como o Pan, não dá tempo para crescer". Outra tática é bronzeador, que deixa o corpo mais escorregadio e dificulta a marcação. Em piscinas cobertas, como a do Pan, porém, ele é menos usado.

Para quem chegou até aqui, vamos às explicações de tudo isso. O polo aquático é um esporte de contato e, portanto, o posicionamento é muito importante. Se você receber a bola à frente do rival, fazer gols é muito mais fácil. Por isso, marcadores tentam sempre se manter próximos dos rivais, tirando as possibilidades de movimentação. Isso é feito, na maioria das vezes, segurando sungas e maiôs e empurrando o rival para baixo d'água. E, uma vez lá, é cada um por si.

"Eu até gosto desse aspecto mais duro. É um esporte bruto, mas nobre. Acabou o jogo, acabou a briga. Nós nos encontramos fora da água e somos companheiros. Esse é o bonito", finaliza Adrià.

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