Técnico mais vitorioso do Pan admite: "era bom de treino, mas ruim de competição"
Bruno Doro Em Guadalajara (México)
ESTRATÉGIA DE LIGEIROS SERÁ IMPORTADA Shinohara em treino com Luciano Correa: depois do Pan, ele vai usar a mesma tática que deu certo com os ligeiros com todo o grupo da seleção. Vai montar grupos dos lutadores mais leves, de 60 a 73 kg, e outro com os mais pesados, a partir de 81 kg.
Nenhum treinador foi tão vitorioso nos Jogos Pan-Americanos quanto Luiz Shinohara. Comandando a seleção brasileira masculina de judô, ele colocou todos os seus atletas em finais e conquistou seis entre sete medalhas de ouro possíveis. Apesar do sucesso, ele admite: quando era judoca, “era bom de treino, mas não de competição”.
O judô foi um dos esportes que mais ouros deu ao país no México. Ficou atrás de natação, com dez primeiros lugares, e atletismo, com nove, mas o aproveitamento do time de Shinohara foi incomparável. Com seis ouros, foi a primeira vez na história do judô em Jogos Pan-Americanos que um só país conquistou tantos primeiros lugares entre os homens – em 1995, Cuba levou os sete ouros do feminino.
“O resultado é em função da atenção que a gente está dando para cada categoria. O atleta se sente realizado com isso. Como é um grupo menor, dá para trabalhar com ações mais específicas e o atleta se motiva bastante com isso”, explica o treinador.
O melhor exemplo do trabalho de Shinohara é a evolução que a categoria ligeiro teve nos últimos anos. Em Guadalajara, Felipe Kitadai conquistou a primeira medalha de ouro da categoria desde 1987. O último brasileiro a vencer nos 60 kg tinha sido Sérgio Pessoa, em Indianápolis.
Ele próprio um ex-judoca da categoria, ele juntou os melhores atletas do peso em São Paulo e comandou sessões de preparação conjuntas, para que a competição interna ajudasse na evolução do grupo. Deu certo. Hoje, Kitadai é o 17º colocado no ranking mundial, à frente, por exemplo, do vice-campeão mundial e olímpico Ludwig Paischer, da Áustria. Seu rival pela indicação olímpica, Breno Alves, também não está longe e é o 26º da lista.
“O Kitadai está bem, mas o Breno Alves também está na cola. Com as ações que fizemos, com uma série de competições fora do Brasil, o Breno está atrás no ranking, mas está babando atrás. O Kitadai não pode bobear. O pessoal do ligeiro tem evoluído bastante. Antes, a categoria ligeiro tinha parado de dar resultado. Hoje a gente tem uma categoria que voltou a conquistar títulos”.
Essa reviravolta é ainda mais especial para o treinador por seu histórico como atleta. Ele conquistou três medalhas nos Pan-Americanos, com um ouro em San Juan-1979, prata em Caracas-1983 e bronze na Cidade do México-1975. Apesar das conquistas, ele nega que tenha imposto seu estilo aos comandados. “Nem sei se fui um dos melhores ligeiros do Brasil. Não me vejo em nenhum deles, não. Eu era muito ruim de competir. Era mais de treinar”.