Cavaleiro supera fratura exposta, deixa muletas em SP e brilha no Pan
Mauricio Stycer Em Guadalajara (México)
Mal concluiu a prova de cross-country, Jesper Martendal mergulhou a perna direita num balde com gelo, como parte da fisioterapia necessária para recuperar a perna direita, que sofreu fratura exposta
Jesper Martendal disputava uma competição hípica sem maior importância em Rio Claro (SP) quando o cavalo Land Rhummy refugou. O cavaleiro tentou controlar a situação, mas foi ao chão. Nos primeiros instantes após a queda, não sentiu nada, mas logo veio uma dor intensa. E não poderia ser diferente: Jesper sofreu uma fratura exposta de tíbia e fíbula da perna direita.
O acidente ocorreu no último dia 25 de julho. Recebeu os primeiros socorros em Rio Claro mesmo, mas foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia seguinte, onde foi submetido a uma longa cirurgia. Saiu de lá com uma haste de titânio dentro do osso, de 25 centímetros, e um duro diagnóstico do médico que o operou: “Pode esquecer o Pan”.
Menos de três meses depois, Jesper sorria, exausto, com a perna direita enfiada em um balde com gelo. Havia acabado de completar o circuito de cross-country, segunda prova do Concurso Completo de Equitação (a primeira foi adestramento).
O Brasil terminou a prova em terceiro lugar, atrás de Estados Unidos e Canadá. No concurso individual, Jesper foi 14º colocado entre 49 cavaleiros. Neste domingo, se realiza a terceira e última etapa, o concurso de salto. Ficando com o bronze, o Brasil dá um passo importante para ir a Londres, em 2012.
Jesper foi o primeiro brasileiro a passar pelos 5.225 metros da pista, repleta de obstáculos e dificuldades, no Santa Sofia Golf Club. Completou a prova abaixo dos 9min30, tempo máximo permitido, sem cometer nenhum erro. Em outras palavras, “zerou” o circuito.
O pai de Jesper, o sueco Staffan Martendal, foi o primeiro a cumprimentá-lo. Depois vieram todos os cavaleiros do time brasileiro, o técnico da equipe, o inglês Nick Turner, além de cavaleiros de outros países.
“Sempre acreditei que ia me recuperar”, conta Jesper ao UOL Esporte. Três dias depois de deixar o Einstein, andando com a ajuda de duas muletas, o cavaleiro começou a fazer fisioterapia. “Três horas e meia por dia”, ele conta. Depois de vinte dias, acredite se quiser, recomeçou a montar.
“O meu limite era a minha dor. E doía”, diz. Continuou com a fisioterapia e passou a treinar uma hora por dia. No início de setembro, o técnico Turner o convocou para um treinamento com vistas à definição da equipe que iria ao Pan para o Concurso Completo de Equitação. Sete cavaleiros disputavam cinco vagas.
Jesper chegou para o treino mancando. “Ele sentiu que eu estava em condições”, conta. Ele é o caçula da equipe, com 29 anos. “O Nick apostou em mim”.
Ao final da prova no Santa Sofia Golf Club, ao tirar o uniforme, o cavaleiro exibia uma camiseta com as palavras: “A Deus, toda honra, toda glória”. Jesper é evangélico e credita a Deus a sua recuperação. Mas a força de vontade que exibiu nestes três meses é só dele. “Foi além da expectativa”.