Em uma prova decidida nos últimos dois dos 42 quilômetros de percurso, o brasileiro Franck Caldeira conquistou a medalha de ouro na maratona masculina disputada neste domingo, último dia de competições dos Jogos Pan-Americanos ao terminar a prova em 2h14min03. A medalha de prata ficou com o guatemalteco Amado García, que liderou quase toda a prova, até ser surpreendido por Caldeira, em arrancada fulminante nos dois quilômetros finais, e finalizou a corrida em 2h14min27 O mexicano Franco Procópio levou o bronze, com o tempo de 2h15min18.
Aos 24 anos, Caldeira, que é o atual vencedor da corrida de São Silvestre, não era considerado um dos favoritos da prova. A principal aposta brasileira era o veterano Vanderlei Cordeiro, de 37 anos, medalha de bronze em Atenas-04, que tentava o tricampeonato, depois de dois ouros seguidos em Winnipeg-99 e Santo Domingo-03. Mas Cordeiro, que chegou a liderar na primeira metade do percurso, sentiu cãibras e abandonou a prova.
"Foi uma prova tática. O ritmo foi forte, diferentemente do que normalmente acontece, ainda mais no final, mas foi tudo perfeito. Nem a chuva atrapalhou, foi uma pancada rápida. A temperatura estava ideal", disse Caldeira, ainda ofegante. O vencedor cruzou a linha de chegada mancando. "É só uma bolha, coisa normal, de maratona", minimizou ele, com o pé esquerdo sangrando.
Caldeira admitiu que não sabia qual seria a estratégia de Cordeiro de Lima, e que temeu que ficasse sem fôlego até o fim, e fosse surpreendido pelo veterano. "Não sabia que o Vanderlei tinha abandonado. Ficava pensando se ele tinha alguma estratégia e ia vir com tudo no fim", disse Caldeira.
Foi na marca dos 10 quilômetros finais que Franck Caldeira passou à segunda posição. A 20 km/h, passou a perseguir o guatemalteco Amado Garcia, que ainda liderava com tranquilidade, a 130 m à sua frente. A quatro quilômetros do fim, Caldeira baixou a vantagem para 35 m.
Caldeira passou a maior parte do trajeto no segundo pelotão, atrás do guatemalteco Amado Garcia, que liderou desde os primeiros metros. Sob forte chuva, o brasileiro, que faz sua estréia no Pan, fez uma arrancada para assegurar o ouro para o país.
O próprio guatemalteco se surpreendeu com Caldeira. "Eu estava bem, corri sozinho a prova toda, e cheguei a pensar que se mantivesse meu ritmo, venceria. Mas então veio o Franck, do nada. Só pensei: 'Caramba!', mas ele me passou", brincou Garcia.
O trajeto, de 42.195 km, teve largada na praia do Pepino, em São Conrado, passando pela Avenida Niemeyer até o Leblon, onde os maratonistas seguiram pela orla de Copacabana e Leme, até o túnel para Botafogo, e depois ao Parque do Flamengo.
Após o primeiro trecho, na subida até o Leblon, os dois atletas mexicanos, Francisco Bautista e Procópio Franco, os guatemaltecos Alfredo Arevalo e Amado Garcia, e, um pouco atrás, o equatoriano Slvio Guerra formavam o primeiro pelotão. Os brasileiros Vanderlei Cordeiro de Lima e Frack Caldeira se mantiveram no segundo grupo, a cerca de 120 metros de distância.
Na entrada de Copacabana, os mexicanos tomaram a liderança do pelotão. Vanderlei passou à frente do segundo grupo. Franck tomou o terceiro posto do segundo grupo, atrás do norte-americano. Na orla, o veterano equatoriano Silvio Guerra e o venezuelano Jose Alejandro Semprum se alternaram na liderança, puxando o ritmo da prova.
Na passagem pelo Leme, onde os corredores rumaram ao túnel do Pasmado, em direção à praia de Botafogo, o mexicano Procópio Franco passou à frente do grupo. O segundo pelotão, com Vanderlei na ponta, diminuiu a vantagem para 90 metros aos primeiros colocados.
Na entrada do Parque do Flamengo, com 16 km percorridos, Vanderlei encostou no primeiro pelotão, e foi formado um único grupo. O brasileiro logo passou a figurar entre os líderes da prova, atrás da dupla da Guatemala. Já no Parque, local da chegada, Vanderlei passou a liderar a disputa pela primeira vez. O medalhista de bronze em Atenas-2004, no entanto, acabou abandonado a prova na sua parte final.
Do lado do brasileiro, o cubano Norbert Gutierrez ganhou destaque no primeiro pelotão. Gutierrez era dúvida para a prova, uma vez que a delegação cubana deixou a Vila Pan-Americana na noite do sábado, após ordens do líder do país, Raul Castro. Gutierrez, no entanto, permaneceu para a maratona.
Na altura do km 19, próximo ao aeroporto Santos Dumont, os guatemaltecos, liderados por Amado Garcia, dispararam, e obtiveram uma boa vantagem de 35 metros dos demais corredores. Correndo a 18 km/h, Garcia se consolidou como primeiro colocado depois dos 25 km. Franck Caldeira passou a liderar o segundo pelotão, quando deu início à perseguição.
A 10 km do fim, o guatemalteco Garcia aumentou o ritmo e, seguro, a 200 m à frente dos demais, apertou o passo, já na volta do percurso. Garcia só foi perder a liderança para Caldeira nos dois quilômetros finais, já no Parque do Flamengo, sob forte chuva.
O recorde mundial da prova pertence ao queniano Paul Tergat, que cravou 2h04min55 em Berlim, em 2003. O melhor índice pan-americano é de Jorge Gonzalez, de Porto Rico, que fez 2h12min43 no Pan de Caracas-1983.